Rússia X Ucrânia: esse jogo não é um a um
O problema é saber onde está uma posição justa, que não acompanhe a ideologia e política de Putin, nem lhe desconheça as razões de invadir a Ucrânia
Publicado 25/02/2022 09:12

O título com a frase “esse jogo não é um a um” vem da ótima composição Um a Um, cantada por Jackson do Pandeiro:
“Esse jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)
Ah, olhe o jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)
O meu clube tem time de primeira
Sua linha atacante é artilheira
A linha média é tal qual uma barreira
O center-forward corre bem na dianteira
A defesa é segura e tem rojão
E o goleiro é igual um paredão
Esse jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)
Mato um mas o jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)
É encarnado e branco e preto
É encarnado e branco
É encarnado e preto e branco
É encarnado e preto…”
Mas se assim é o título, assim não é a dificuldade em que a gente se encontra nessa nova guerra. O problema é saber onde está uma posição justa, que não acompanhe a ideologia e política de Putin, nem lhe desconheça as razões de invadir a Ucrânia. Difícil. As notícias pela televisão, com seus liberais comentaristas, nos deixam como pets domésticos de Joe Biden. Então eu pesquiso e leio na BBC News uma possível origem da invasão:
“Putin afirmou que a Ucrânia é uma marionete do Ocidente e nunca foi um Estado adequado. Ele exige garantias de que a Ucrânia não se juntará à Otan, uma aliança militar de 30 países, e para que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro…
Ele quer uma promessa sustentada legalmente de que a Otan não expanda além de sua composição atual. ‘Para nós, é absolutamente mandatório garantir que a Ucrânia nunca, jamais se torne um membro da Otan’, disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov.
Putin reclamou que a Rússia ‘não tem mais para onde recuar — eles acham que vamos simplesmente ficar sentados?’ “.

Mas isso é apenas mencionado com ares da maior neutralidade, porque se inscreve entre razões majoritárias de condenação ao governo russo. Então eu vou ao People’s World e descubro uma razão justa https://www.peoplesworld.org/article/what-is-the-minsk-agreement-and-whats-its-role-in-the-russia-ukraine-crisis/ (Tradução do Vermelho):
“Sob pressão de ultranacionalistas e russófobos, sucessivos governos na Ucrânia não conseguiram resolver as queixas da maioria de língua russa na região de Donbass. A Ucrânia também não implementou as disposições do Acordo de Minsk assinado em 2015 para pôr fim ao conflito na região.
A situação na Ucrânia hoje pode ser atribuída em grande parte à ascensão dos grupos ultranacionalistas e russófobos que obrigaram o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich a renunciar durante os protestos “Euromaidan” em Kiev, em fevereiro de 2014.

Os manifestantes pediram que Yanukovich seguisse políticas favoráveis à integração com a UE e a Otan, mesmo à custa de prejudicar os laços tradicionais da Ucrânia com a Rússia. Este mesmo conjunto de grupos políticos ultranacionalistas e russofóbicos tem dificultado a implementação do Acordo de Minsk por sucessivos governos ucranianos”.
Ou então aqui, em outro texto do People’s World https://peoplesworld.org/article/pipeline-ploy-how-u-s-natural-gas-interests-are-fueling-the-ukraine-crisis/:
“Como os interesses do gás natural dos EUA estão alimentando a crise na Ucrânia
Junto com a tentativa de absorver militarmente a Ucrânia na Otan, outro fator importante que está se tornando mais aparente no incessante discurso da administração Biden sobre guerra com a Rússia é o desejo dos produtores de energia americanos de invadir os mercados europeus com gás natural fragilizado.
Embora a grande imprensa esteja saturada com a conversa sobre um ataque para sempre da Rússia à Ucrânia e especule sobre o suposto desejo de Moscou de congelar a Europa cortando o fornecimento de gás, poucos repórteres na mídia corporativa estão perguntando quem ganha economicamente com o impasse no leste.

No entanto, juntando algumas peças do quebra-cabeça, alguns vencedores claros começam a emergir na crise da Ucrânia, quer haja ou não uma guerra real: corporações multinacionais de gás e petróleo. E parece que sua indústria encontrou o porta-voz mais poderoso do mundo para representar seus interesses – o governo dos Estados Unidos.
Empresas como Chevron, ExxonMobil e Shell, juntamente com as centenas de empreiteiras de perfuração e transporte marítimo que trabalham com elas, querem intensificar massivamente as exportações para uma Europa faminta por gás, mas quem está no caminho é a Rússia e sua empresa estatal Gazprom. Atualmente, o gás natural russo responde por mais de 30% de todas as importações para a União Européia. As principais potências da UE, Alemanha e França, recebem 40% de seu gás da Rússia, enquanto alguns outros países, como a República Tcheca e a Romênia, utilizam apenas gás russo”.
Essas as razões sérias, graves, da guerra.
E eu, que pensava em escrever sobre Rússia x Ucrânia a partir de uma gozação com a visita ridícula de Bolsonaro a Putin. Menciono apenas trechos de A incrível conversa entre Bolsonaro e Putin, que eu escreveria:
“Conversar não é um dom de Bolsonaro. Ele não conversa, ele fala piadas baixas de botequim e frases de menosprezo e desprezo contra negros, mulheres e gays. Mas há que manter as aparências em encontros internacionais. Olhem, com Putin ele se esforçou.
Declaração de Bolsonaro ao sair: ‘O encontro com Putin durou aproximadamente 2 horas. Tivemos até momentos de muita informalidade, certas particularidades’. Mas não especificou quais, e adianto aqui, da “conversa” informal:
Putin – Eu sou muito macho.
Excitado, Bolsonaro ordena para o tradutor:
– Pergunta se o dele é grande!
Tradutor – Presidente, não fica bem…
Bolsonaro – Pergunta! Estou mandando!
E o tradutor:
– Is yours a big one?
Ao que Putin responde:
– Medium. But it works.
E Bolsonaro responde
– Mi-tu!”
Como veem, foi melhor pesquisar. Ainda bem que despertei a tempo para a gravidade do conflito e não prosperei no ridículo. Venceu a realidade, enquanto a mentira da guerra continua nas notícias da televisão.