Segue a luta contra o golpe!

 A luta política em curso no Brasil põe à prova as conquistas sociais dos últimos treze anos, os avanços no projeto de construção de uma Nação soberana e a própria democracia. É o que representa o intento golpista que está sendo levado a cabo pelos derrotados nas eleições de outubro de 2014.

Tentam a todo custo desestabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e criar as condições para sua derrocada, levando a cabo um processo de impeachment ilegítimo, visto que não conta com o seu requisito fundamental: crime de responsabilidade cometido pela presidenta da República. Nasce viciado, ao arrepio da Constituição e, mais que um governo, ameaça as instituições democráticas.

Os golpistas sofreram um duro revés com a recente decisão do STF em disciplinar o rito a ser adotado – julgamento em que o PCdoB, autor da ação, teve papel protagonista – desbancando o objetivo da oposição, aliada ao presidente da Câmara, em atropelar os procedimentos e manipular as regras de acordo com sua conveniência. Ao mesmo tempo, cresce a resistência popular e amplos setores da sociedade, ainda que críticos ao governo, percebem que o golpe não representa a solução para graves problemas nacionais, notadamente a corrupção. Entretanto, o risco permanece vivo e baixar a guarda representaria um grave erro, certamente fatal.

A crise política em curso é resultado da combinação de um conjunto de fatores. O primeiro a ser considerado é o fato de que a crise do capitalismo chegou ao Brasil, exigindo do governo a tomada de medidas que tiveram impacto na vida de milhões de brasileiros. Parte delas eram necessárias, mas é bem verdade que decisões equivocadas também acabaram por acentuar as dificuldades. É cedo para avaliar os impactos concretos da saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda, mas certamente manter um empregado dos bancos conduzindo a política macroeconômica é a representação fiel do dito popular em que “a raposa toma conta do galinheiro”. De toda forma, mais que erros do governo, as vicissitudes enfrentadas refletem um complexo cenário internacional com impactos em diversas nações do mundo.

Um segundo elemento a considerar é a ofensiva conservadora que atinge em cheio diversos países do mundo, sobretudo da América Latina. Os governos progressistas do Chile, Bolívia e Equador mantém-se de pé em meio a dificuldades; a recente derrota do campo progressista nas eleições presidenciais da Argentina representou um duro golpe e na Venezuela a cena política é tomada por um elevado grau de radicalização provocada pela direita, que tem apelado para a violência e o boicote econômico, ensaiando o cenário para um golpe.

Não nos enganemos: o que ocorre no Brasil – ainda que com peculiaridades próprias da realidade nacional – faz parte desse contexto, e a tentativa de deslocar do poder a coalizão progressista que governa o país atende aos interesses imperialistas na região. Por essa razão, é preciso assegurar a unidade das correntes avançadas do continente e a solidariedade mútua às pressões que vêm sendo exercidas em cada país. Em última análise, tratam-se de variantes de uma mesma luta.

Somam-se a essas circunstâncias as consequências políticas da Operação Lava Jato, que vem sendo orquestrada como instrumento de desgaste da presidenta Dilma, do ex-presidente Lula e do governo. Vazamentos seletivos, prisões abusivas, delações consideradas como prova, dentre outros graves excessos são as marcas desse processo que visa criminalizar o PT e a esquerda.

O consórcio oposicionista formado pelo imperialismo, pelos rentistas e especuladores, por setores da Polícia Federal e do Poder Judiciário e pelos partidos da direita conta ainda com o apoio integral e descarado da grande mídia. Falseiam notícias e produzem estrondosas capas contra o governo, ao tempo em que reservam notas de rodapé (ou simplesmente omitem) quando denúncias chegam a próceres da oposição. O governo, por seu turno, parece sofrer da Síndrome de Estocolmo (nome dado ao distúrbio psicológico em que a vítima passa a ter simpatia pelo seu agressor) e continua a abastecer com milhões de dinheiro público esses veículos de comunicação, através de verba publicitária.

É preciso ter clareza: a acirrada luta política que estamos a presenciar é resultante do confronto entre dois projetos muito distintos de Nação e, de certo modo, da própria luta de classes, que continua a ser, afinal, o motor da história.

Cabe aos setores progressistas firmeza para defender o legítimo mandato da presidenta Dilma e construir as alianças capazes de levar a cabo esse intento. O momento não é de se paralisar diante das dificuldades – é preciso altivez, serenidade e uma correta análise de conjuntura para construir as condições necessárias para sair das cordas.

Em recente artigo, o ex-presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, vaticina uma justa orientação: “é certo que não se pode alimentar duas disjuntivas: de um lado, devaneios de pactos com a oposição golpista e neoliberal, reerguendo pontes para o passado; por outro lado, ilusões de que a solução está no voluntarismo político, ou em medidas mágicas para a retomada rápida do crescimento, nas condições atuais”.

A luta contra o golpe é a bandeira central, a prioridade zero e foco de todas as nossas atenções. Sobre ela devemos nos debruçar integralmente nesse próximo período.

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