Sonho de Icaro 

Oferecido pelo blog do companheiro Altamiro Borges, o Miro, tomei conhecimento de um instigante artigo do teólogo Genézio Darci Boff, mais conhecido como Leonardo Boff.

Em seu texto ele introduz no debate sobre a crise do PT e a perseguição a Lula,elementos importantes. Pode-se discordar ou não, mas o fato é que a analise profunda da situação em vive o país não pode prescindir, com a devida assimetria, da compreensão do papel que o Partido dos Trabalhadores jogou e seus equívocos.

Interessa a esquerda séria do Brasil e aqueles que contribuíram para a vitória eleitoral de propostas históricas que levaram Lula a presidência da República após três tentativas consecutivas. Milhões de anônimos militantes dedicaram-se a árdua tarefa de vencer preconceitos e transpor obstáculos para tornar realidade o sonho de mudança.

Por isso não nos pode ser indiferente os equívocos, erros e ilusões praticadas, pois não foi em nome delas e por elas que houve dedicação. Também não foi dado nenhum cheque em branco para quem quer que seja ou que fosse.

É verdade que a elite brasileira é cruel. A luta de classes é dura e cruenta, mesmo em um momento aparentemente pacifico do sistema capitalista. Mas por isso mesmo o Brasil nem a luta por mudá-lo, é para principiantes. Quem se propõe a governar deve estar disposto a assumir os riscos de enfrentar o jogo sempre sujo daqueles que não abriram mãos de privilégios seculares.

Diz o Boff, que pela primeira vez uma “coligação de forças progressistas e populares hegemonizada pelo PT ascendeu ao poder central” e que a opção feita, foi a de construir uma maioria parlamentar em busca da propalada “governabilidade”. E construir maioria parlamentar no Brasil, em nenhum estado e em nenhum dos quase seis mil municípios, é feito tendo com base programas e bandeiras.

A extraordinária retirada de trinta e seis milhões de brasileiros da linha da pobreza foi, sem dúvidas um evento importante. Os programas sociais nas áreas de educação, outra marca de destaque, assim como a política externa dos dois mandatos do Lula.

Mas é evidente que as ações não levaram em conta a dura realidade da política brasileira. Partidos conservadores e experientes, aliados a mídia golpista e a setores do judiciário formaram aos poucos uma coalizão oposicionista forte. Nós sabemos que os tucanos ganharam as duas eleições 94/98 no primeiro turnos e nós ganhamos as quatro, todas no segundo turno. Isso já mostra a força deles e a nossa. Aqui sim com simetria!

Mas parece que houve uma ilusão por parte do Lula, que as elites estavam prontas para aceitar sem resistências, sem “golpes” e sem armadilhas o “destino” de serem governado por um operário, nordestino e sem diploma universitário e o que parece “pior” sem falar outro idioma.
Setores dirigentes do partido e dos aliados, acharam que poderia seguir com a mesma lógica anterior. O Procurador, Fernando Amorim Lavieri, especialista em questões ambientais, disse a semana passada, ao se referir aos Marinhos “os brasileiros ricos podem tudo”. Pois é os ricos podem.

Mas os pobres e seus representantes, mesmo os que estão momentaneamente nos governos, não! E isso, infelizmente, setores dirigentes do PT, não entenderam. E foram cada vez mais institucionalizando uma relação baseada no fisiologismo tão duramente criticado no passado, passando a ser cada vez mais reféns de uma lógica perversa imposta pela busca de uma governabilidade cada vez mais comum.

É óbvio que há uma tentativa das elites, que manipulam de forma hábil, as vaidades e idiossincrasias de setores do judiciário e da PF, para desmoralizar a liderança do Lula e minar qualquer tentativa de manutenção deste na luta pelo governo, mas houve muito vacilo do lado de cá e isso é inegável.

Quando o Lula, dono de índices mitológicos de aprovação popular, estava no auge de sua liderança, encaminhar reformas como a política, tributária, agrária, judiciária era possível, mesmo em parte. Mas a opção foi reformar a previdência, gerar superávits primários e juros altos.

O momento é de autocrítica sincera e profunda. Rever atitudes e conceitos. Mas, me parece, que essa consciência ainda não existe. As declarações dadas na semana passada por ocasião do aniversário da agremiação demonstram ainda a arrogância e a prepotência de sempre. A esquerda não nasceu em 1980 e nem “nunca antes na história deste país”!

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