Sumindo

Pai, no início do ano passado, o mundo foi parando… Por causa da pandemia, tínhamos que parar mesmo, pra salvar a vida das pessoas. Mas não parou!

Rio de Janeiro, 18 de Novembro de 2021.

Pai,
No início do ano passado, o mundo foi parando…
Por causa da pandemia, tínhamos que parar mesmo, pra salvar a vida das pessoas.
Mas não parou!
Não parou e as pessoas continuaram morrendo.
Eram só 90 dias, pai e acabava tudo!
Mas uma doença mais grave, prolongou a pandemia.
A doença da ignorância.
E fomos ficando em casa, com o comércio abrindo, contaminando, e fechando de novo.
São ciclos que ainda estamos vivendo, e que não sabemos quando terminam.
A gente tá morrendo de vontade de sair, encontrar os amigos que não vemos faz tempo, matar as saudades.
Só que quando pudermos finalmente sair sem medo, não vamos poder matar as saudades de todo mundo.
Vai estar faltando muita gente.
Não só as que se foram por causa da COVID.
Essa doença também nos tirou o direito de aproveitarmos os últimos momentos delas.
Foram dois anos roubados do contato com elas.
Não pudemos abraçar a Dôia Sequeira, dar um beijo na Irles, bater papo com meu amigo Luciano que encontrava sempre na pracinha da General Glicério, ir num show da Marília Mendoça, rir das divertidas conversas do Ota, ver novos desenhos do Nani, nem aguardar um novo livro ou música do Aldir Blanc.
Quando isso acabar, vamos estar com um buraco no peito.
E enquanto nós sofremos, outros vivem um mundo de fantasias e luxo das Arábias, com o nosso dinheiro.
Ouro pra eles e duzentas merrecas para o povo…
Um beijo do seu filho,
Ivan

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