Tony Blair salva a rainha!

A repercussão da morte da Princesa Diana, no mundo em geral e na família real e no governo do primeiro-ministro Blair em particular, é o assunto através do qual Stephen Frears coloca em discussão aspectos dos bastidores do poder britânico, no filme A R

Ironia nas cenas e nos diálogos, interpretações precisas, ambientação faustosa enchem os olhos e os ouvidos nesta obra que começa com a ascensão de Anthony Charles Lynton ''Tony'' Blair, dirigente do Partido Trabalhista Inglês, a primeiro-ministro do Reino Unido, em 1997 e termina meses após os funerais pomposos e mundialmente transmitidos pela TV de Diana Frances Mountbatten-Windsor, a Lady Di, morta num acidente de carro, em Paris, em 31 de agosto daquele ano. O filme valeu a Helen Mirren o prêmio de melhor atriz por seu desempenho como a Rainha Elizabeth II e a Peter Morgan o prêmio de melhor roteiro na Bienal de Veneza, o prêmio Fipresci de melhor filme na opinião da imprensa internacional na Bienal de Veneza  e indicações ao Oscar para melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original, figurinos, trilha sonora e melhor atriz.


 


A fria reação da família real à morte da ex-mulher do príncipe Charles, de Gales, foi habilmente aproveitada por Blair, que, com o auxílio precioso de um assessor, referiu-se a Diana como a “princesa do povo”. Elizabeth Alexandra Mary Windsor, Sua Majestade a Rainha Isabel II do Reino Unido, não leva em conta o poder da mídia e da imagem criada junto ao povo por Diana e fica com seu conceito seriamente abalado junto aos seus vassalos. Blair acaba vindo em seu socorro – no que é criticado pela esposa, Cherie Booth – que, segundo o comentário de um serviçal da realeza, é republicana.


 


Frears se vale de imagens de arquivo para dar mais realismo às imagens ficcionais dos atores (aliás, trabalhadas pelo fotógrafo brasileiro Affonso Beato). Aborda um período em que a família real vive intenso constrangimento, mas que não perde a fleugma e nem se rebaixa a pensar-se igual a nós, demasiado humanos. Mantém-se válida a observação feita pelo filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel que, num artigo sobre as reformas em curso na Inglaterra, em 1830, informou: ''Em nenhum outro lugar é tão forte como na Inglaterra o preconceito segundo o qual as pessoas que ocupam postos em função do nascimento ou da riqueza são também as mais inteligentes''. A empáfia da rainha-mãe e do marido de Elizabeth, Phillip, o duque de Edimburgo, são demonstrações cabais dessa visão de mundo.



 


No livro As lutas de classes na França de 1848 a 1850, Karl Marx já indicava que a burguesia, ao recorrer à monarquia para seus propósitos de poder, lembrava “aquele ancião que, desejando recuperar a força juvenil, apanhou as suas roupas de menino e se pôs a enfiar nela seus membros decrépitos”. É o que o filme de Frears exibe, ao registrar a ansiedade com que Tony Blair dirige-se à rainha para fazer com que ela voltasse às boas graças de seus súditos. Há também a crítica velada ao primeiro-ministro que, recém-eleito, já esquece suas origens trabalhistas nos pronunciamentos públicos que faz. Na época, Blair gozava de grande prestígio junto ao eleitorado e ainda não havia assumido o triste papel de força auxiliar e subserviente da agressividade estadunidense no mundo, que levou ao atual desgaste junto ao seu povo.


 



Realmente, como disse Eric Hobsbawn, não há esquerda organizada no reino onde o Sol nunca se põe…

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