Trocando igarapés por rios caudalosos
As eleições de 2008 estão encerrando. Pelo menos para a ampla maioria dos municípios brasileiros que tem menos de 200 mil eleitores. O balanço de saldo e déficit será para depois, mas os ensinamentos de mais esta batalha foram espetaculares.
Publicado 02/10/2008 19:10
No caso particular do Amazonas temos duas situações distintas: Manaus, onde não podemos lançar candidatura própria – e, consequentemente, ficamos com raio de ação bastante limitado – e o interior, onde lançamos várias candidaturas e nos compusemos com outras tantas, geralmente em amplas alianças.
Como disse, o balanço fica para depois, mas a conseqüência mais evidente desta ousadia foi que, simbolicamente, nós trocamos os igarapés por rios caudalosos em termos de público e perspectivas políticas, tanto no presente quanto no futuro.
Alguns igarapés na Amazônia têm mais de 200 metros de largura e poderiam ser considerados grandes rios em qualquer lugar do mundo, mas para quem conhece os caudalosos rios de nossa região (Amazonas/Solimões, Negro, Purus, Madeira, etc.) eles não passam de um mero córrego.
Dentro desta simbologia poderia se dizer que antes o partido tinha acesso e falava para um público razoável. Nesta campanha teve acesso e falou para multidões, muitas das quais lideradas por candidaturas próprias do PCdoB e outras com aliados de variados perfis ideológicos.
Foi uma experiência riquíssima. Ver multidões de 5 mil pessoas, em municípios com pouco mais de 20 mil habitantes, empunhando nossas bandeiras, saudando o 65 e construindo uma nova cultura política foi algo espetacular.
É evidente que essas alianças não seguem os “manuais”. Elas têm sua lógica própria. Os exemplos são variados. Temos chapas puro sangue e mesmo assim com razoável capacidade de mobilização de massas e de desempenho eleitoral. Há outras estruturadas em torno dos aliados mais ideológicos e há outras que vão de “a” a “z”, como se diz no jargão popular.
Em São Paulo de Olivença, no alto Solimões, a chapa majoritária auto-intitulada os “curupira” é liderada pelo PT e PCdoB. Mas agrega quase uma dezena de partidos, incluindo PTB e PFL. Tem ampla chance de vitória graças à capacidade que teve de congregar os mais distintos segmentos sociais do município em torno de uma simples palavra de ordem: renovação, na medida em que o grupo do atual prefeito vai para 20 anos de rodízio no cargo.
São Gabriel da Cachoeira, no alto rio negro, a nossa chapa é “puro sangue”, composta por um ex-dirigente da Funai e por uma liderança indígena. Mesmo com poucos recursos e enormes dificuldades estruturais não desistiram. Visitaram mais de 400 comunidades, tribos e escolas. Subiram e desceram rios e igarapés. Atravessaram cachoeiras e enfrentaram a dureza da selva amazônica para levar as idéias socialistas até os mais distintos rincões dessa imensidão amazônica. Falaram sobre socialismo e liberdade para onde antes só se ouvia falar da política do velho clientelismo.
Nesse caso particular o resultado eleitoral é um detalhe. O partido já é amplamente vitorioso. Planta suas idéias e projeta lideranças numa região duplamente estratégica, tanto por ser numa área amazônica quanto por ser fronteiriça a Colômbia.