“Trumponaro”, uma equação lamentável do princípio de Peter

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As recentes acções e declarações de dois presidentes, o inominável no Brasil e o seu homólogo, norte-americano suscitam a questão de um problema concreto: são aqueles dois inomináveis sujeitos, lamentavelmente presidentes eleitos nos seus países, capazes de desempenhar as funções para que o cargo obriga? Ou seja, possuem a competência requerida para o exercício da liderança de nações? Será esse o problema?

O episódio da máscara, em que o inominável brasileiro se cobriu de ridículo e envergonhou o seu governo (da direita moderada que o elegeu a parte dos militares que ainda o apoiam), mostrou o gabarito de quem ocupa a hoje presidência do Brasil. Momento caricato e também dramático de um jogo político que terá o seu desfecho para breve, quando consumar a demissão do ministro da saúde, Mandetta, que hoje representa a competência que falta ao resto do governo. Já havíamos esquecido a inefável Damares, Weintraub e quejandos, remetidos à verdadeira dimensão do seu quase nulo papel de governantes (quase, porque quando o é, é-o no pior sentido, sempre contra os interesses do povo brasileiro).

E o outro, o parceiro norte-americano? Quando a realidade anunciada se tornou evidente, quando centenas de milhares de cidadãos norte-americanos se viram contagiados na pandemia, quando já se acumulam dezenas de milhares de mortos e a cidade de Nova Iorque se torna o epicentro da crise, com o seu governador desafiando a autoridade federal para salvaguardar a vida dos seus concidadãos, o outro decide retirar o financiamento à OMS (Organização Mundial de Saúde, procurando fazer desse organismo internacional o alvo, atribuindo à OMS a responsabilidade dos erros que são seus (dele, o outro inominável).

Ambos praticaram o negacionismo, lançaram a confusão nos países que presidem prejudicando objectivamente a saúde pública, cometendo actos que indiciam crimes contra a humanidade. Mas, será por incompetência?

O “princípio de Peter”, «numa organização, todo indivíduo ascende na hierarquia até atingir o máximo da sua incompetência». A validade científica de tal princípio aguarda confirmação, embora estes dois inomináveis sejam fortes candidatos ao título máximo. Mas há que aferir se as políticas ineptas que promovem e os actos que produzem são derivados da incompetência ou se não haverá uma agenda, a “agenda de Peter” onde governantes se fazem incompetentes ao serviço de uma estratégia de destruição da estrutura social dos países que governam, em prejuízo também daqueles que os elegeram. Há que questionar então a competência daqueles que os rodeiam e sustentam ou, seguindo o raciocínio anterior, questionar a moralidade da agenda que praticam.

A “agenda de Peter”, da incompetência governativa, visa cumprir a “agenda do pandemónio”, da destruição dos poucos mecanismos existentes do chamado “estado social”, os mesmos mecanismos que a política neo-liberal começou paulatinamente a enfraquecer, exaurindo os seus recursos. Urge assim reconhecer a natureza política do problema na sua dimensão ideológica e, no momento presente, avançar com uma consigna adaptada: «cidadãos, homens e mulheres de bom senso, de todos os países, uni-vos!». Apenas alcança uma parte do problema, mas que é, hoje, prioritária – a defesa da vida humana e dos valores humanistas, em oposição à ganância a que se reduz a política imperialista do capital.

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