Tucano depenado

A eleição presidencial chega neste final de agosto em momento decisivo. Pesquisas de opinião, de vários institutos, confirmam diariamente a possibilidade do atual mandatário da República, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vencer o pleito no primeiro

O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), fundado em 25 de julho de 1988, a partir do rompimento com PMDB, propôs em seus estatutos, como princípios programáticos, para a política brasileira a construção de uma “moderna social democracia”. O espírito fundante desta matriz política tinha três objetivos centrais:


 


1- Estabelecer uma ampla democracia política com a introdução do parlamentarismo.


2- Fundar uma nova ordem social e econômica, baseada nos princípios da social democracia européia.


3- Disputar e conquistar o poder central do Brasil, num período mínimo de 20 anos, baseado na ética e na moralidade.


 


 


Naquele período, seus mentores e fundadores: FHC Serra, Covas, Pimenta da Veiga dentre vários, definiram como símbolo do novo partido, uma ave exótica e colorida, o Tucano. Esta ave vive nos dosséis das florestas tropicais da América do Sul, desde as Guianas até o norte da Argentina. No Brasil, ela é encontrada no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia. Ainda com relação ao tucano é uma ave onívora, põe de 2 a 4 ovos por ninhada, alimenta-se de frutos, insetos, sementes etc. e o mais importante, tem expectativa media de vida de, no Maximo, 20 anos.


 



Voltando aos princípios fundantes do PSDB, verificamos que depois de aproximadamente dezoito anos de vida, o partido encontra-se completamente desfigurado. O distanciamento do projeto original é verificado em toda sua extensão , fundamentalmente na perspectiva tática e estratégica do partido.


 



O projeto de democracia política proposta inicia, com a introdução do parlamentarismo e o rompimento com os coronéis da velha UDN/Arena, não durou uma década. Desde 1994, o velho PSDB alia-se ao que existe de mais atrasado na vida política brasileira o PFL, de Antonio Carlos Magalhães, Jorge Bonhausen, Eliseu Resende e companhia. Já o seu dirigente maior, o Presidente de honra, Fernando Henrique Cardoso, na primeira oportunidade, rasgou todos os princípios de democratização propostos pelo novo partido, que tinha como carro chefe o parlamentarismo, ao comprar votos de deputados e senadores, para possibilitar a continuidade do presidencialismo e permitir sua reeleição, hoje questionada pelos próprios tucanos.


 



Na esfera econômica e social o distanciamento foi ainda maior. Os oito anos de governo FHC consolidaram e aprofundaram, o modelo neoliberal iniciado pelo Presidente Fernando Collor de Melo. Privatizações, abertura do mercado brasileiro (comercial e financeiro), desconstitucionalização de direitos sociais, são exemplos de algumas medidas desenvolvidas à partir do consenso de Washington. A política neoliberal tucana, não ficou restrita ao mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso, espalhou por todos os governos estaduais e municipais dirigidos pelo PSDB.


 



Os desdobramentos da ortodoxia econômica, em comunhão com as políticas neoliberais foram vividos e vistas a olhos nus, pela população brasileira. Desemprego (14 milhões em oito anos); apagão (falta de investimentos em infraestrutura); Miséria (o Brasil passa pela maior concentração de renda de sua história; Salários (os salários tiveram o pior desempenho desde 1950); democracia (o movimento social foi tratado como caso de polícia, resgatando Arthur Bernardes, do início do século). O Estado de bem estar social, projeto inicial, transformou-se em miséria, desemprego e abandono.


 



O terceiro objetivo anunciado com mais veemência pelo então Ministro das Comunicações, Sergio Motta tinha projeções estratégicas. Para desenvolver o projeto de governo e de nação, o PSDB ficaria no mínimo vinte anos no poder. Entretanto, a ética e a moral idealizada inicialmente não suportou sequer uma década. A corrupção envolvendo as privatizações, o proer, a pasta rosa, ilhas Caynam, BNDES , juntou-se às relações promiscuas com coronéis do sertão, levando a desmoralização  todo o projeto político e social.


 



Hoje a pouco mais de trinta dias das eleições gerais no Brasil, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, caminha para uma surra inesquecível. Alguns articulistas já falam na possibilidade de empate técnico do tucano, com a nova cristã trotsquista, Heloisa Helena do PSOL. O principal dirigente, Fernando Henrique Cardoso, foi escondido pelos marqueteiros da campanha, que através de pesquisas qualitativas e quantitativas conhecem o quanto prejudicial será seu envolvimento no processo eleitoral para o PSDB. Mas, FHC não desiste nunca, saiu das páginas políticas dos principais jornais do Brasil, para as páginas da revista playboy. Que triste fim de FHC.


 



Já a previsão de Sergio Mota, que presumia vinte anos de poder aos tucanos, não se confirmou. Talves quem sabe, se o Ministro estivesse entre nós, acompanhando o processo eleitoral atual, ao observar as várias deserções nas fileiras do PSDB, pudesse chegar a uma simples conclusão: O projeto de vinte anos de poder foi abatido pela praga do tucano. Ao que parece, vinte anos não é de poder, mas sim o período de vida ativa deste deformado partido liberal, que ousou usar a exótica ave de nossa fauna, para representar esta aberração cromossômica partidária. Que viva a praga do tucano

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor