Tucanos, Sucupira & Lavo as mãos

 Se a dramaturgo Dias Gomes estivesse vivo certamente iria cobrar direito autoral dos tucanos por uso abusivo do roteiro que ele criou para a imaginária cidade de Sucupira e seu caricato prefeito Odorico Paraguaçu.

José Serra transformou as eleições de 2010 num vale tudo semelhante ao modus operandi do prefeito de Sucupira para quem não havia limites e nem escrúpulos a serem moralmente considerados quando o seu propósito estava em jogo.

Mandar matar alguém para inaugurar um cemitério feito extemporaneamente, prometer o que nunca fez e nem pretende fazer ou imputar todos os defeitos – reais ou fictícios – nos adversários eram apenas algumas das características do sucupirano.

Quando a propaganda tucana esbraveja que vai defender a Petrobras, o pré-sal, prorrogar a Zona Franca de Manaus (ZFM) por 100 anos, valorizar o serviço público, ampliar os programas sociais, etc, etc, não tem você como não se imaginar num comício em Sucupira, onde a demagogia e as bravatas eram o lugar comum.

Não se trata de simples demagogia, porem, a verborragia tucana. Trata-se de uma fraude aberta que eles vêm praticando sem qualquer questionamento da nossa tão “zelosa” imprensa nacional ou estrangeira.

Afinal, ou eles mentem quando escrevem seu programa neoliberal – copiado mecanicamente de Hayek – ou mentem agora quando fazem a propaganda de TV e Rádio tentando esconder da população tudo o que ela condenou nos 08 anos de FHC. O que eles dizem na propaganda eleitoral é antagônico ao programa e a prática deles.

No caso especifico da ZFM uma colunista social, revelando um extremado bom humor, passou a chamar José Serra de “quase um índio andirá”, de tanto que ele fala em defender a Zona Franca e o Amazonas. Não é por acaso a pregação recorrente e a fina ironia da colunista. Durante todo o período de Serra à frente do governo de São Paulo, o Amazonas teve que fazer plantão no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir que as portarias editadas por ele inviabilizassem o pólo industrial da ZFM.

A pregação demagógica só é substituída pela agressão grosseira e obtusa lançada diariamente contra Dilma Roussef na propaganda eleitoral e pela generosa cobertura dos meios de comunicação. A apelação para assuntos religiosos e de natureza moral, como o aborto, me faz igualmente lembrar as “beatas” de sucupira, cuja maior “virtude” era difamar aquelas que eventualmente poderiam competir com elas nas preferências do prefeito Odorico Paraguaçu.

Creio que chegamos ao fundo do poço em termos de apelação e baixaria. E alguém que é capaz de fazer isso para tentar ganhar uma eleição, é uma pessoa extremamente perigosa, porque é capaz de tudo. Não tem, tal qual o pitoresco Odorico Paraguaçu ou o bestial Hitler, nenhum limite, nenhum escrúpulo.

Por isso me causa espanto a atitude adotada por Marina Silva que, tal qual Pilatos, preferiu “lavar as mãos” a se posicionar diante de um fato que mudaria a história recente da humanidade. Marina adota comportamento semelhante. Diz, implicitamente, que os métodos tucanos de baixaria e de desmonte do país são aceitáveis. Sim, porque aquilo que eu não condeno em tese eu aceito.

A abstenção é, sem dúvidas, uma forma de manifestação política. Mas se usa em momentos de absoluta falta de opção, em momentos de cerceamento completo da liberdade. Não é o caso.

O Brasil vive um bom momento democrático. Experimentou avanços econômicos e sociais inegáveis, apesar da herança maldita dos tucanos, realçou sua liderança mundial e passou a ser respeitado mundo afora, em absoluto contraste com a era de FHC. Tem limites e insuficiências e mesmo erros morais grosseiros, os quais devem ser enfrentados e superados.

Não é certamente com Serra e seu entourage de “americanoides” que isso se resolverá. Ao contrario, a única forma do Brasil se livrar de métodos e práticas medievais, como essa de transformar religião e aborto em tema de campanha, é derrotando os que representam o obscurantismo e elegendo um governo que apesar de erros e insuficiências tem claro compromisso com a maioria do povo, com o país.

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