Tudo que a boca come
A Capoeira é uma manifestação cultural que surgiu como arte marcial a partir da luta dos escravos pela sua liberdade. Durante os séculos de escravidão, ela sofreu mutações e após este período viveu transformações e desenvolvimentos. Mas a essência, o conteúdo é e continuará sendo esta: Luta!
Publicado 29/02/2016 10:47
No inicio da República foi criminalizada, tipificada assim pelo Código Penal e foi, sem escapismos, tirada desta condição por ser assimilada também como esporte. Assim é o destino de todas as artes marciais. É “cultura” na medida em que é a expressão física construída a partir de uma determinada cultura ou junção de algumas.
Com base nessa compreensão, criticada inexplicavelmente por alguns que se dizem arautos e defensores das tradições e da liberdade de expressão, que lideranças da Capoeira desportiva ou esportiva, através de suas organizações e entidades fizeram chegar ao Conselho Nacional de Esporte há mais de seis anos a reivindicação que esta arte fosse incluída na relação dos esportes do Ministério.
Estranhamente os Ministros anteriores não deram a atenção devida ao problema e sequer encaminharam as deliberações do CNE que aprovaram a inclusão. Entretanto há cerca de um ano em fevereiro do ano passado algumas lideranças do CNUC tiveram uma audiência com o atual Ministro de Esporte, o Deputado George Hilton, e lá fizeram entre outros, o pedido para que tal situação fosse resolvida.
Os argumentos eram que, sendo a Capoeira também esporte, não poderia jamais o Ministério do Esporte do Brasil, deixá-la desassistida. Em especial num momento em que um projeto importante de incentivo a prática desportiva no país estava em curso. A Capoeira e os que a praticam como esporte, devem e podem ter condições e estímulos ao seu desenvolvimento técnico e prático.
Incentivo e fomento para que com tal prática massificada possamos enfim resgatar uma divida com este seguimento que tanto projeta o Brasil no exterior e ajuda a saúde e o bem estar dos brasileiros que á praticam.
Pois bem, no dia 16/02 deste ano em uma histórica reunião do Conselho Nacional do Esporte, ocorrida no Clube Naval do Rio de Janeiro foi dado um desfecho ao inexplicável impasse.
A reunião presidida pelo próprio Ministro formalizou a resolução de reconhecimento da Capoeira e outras artes marciais como atividade esportiva.
“A Capoeira- diz a reunião- também é esporte, tem competições, são atividades importantes para o condicionamento físico. Crianças, adultos e idosos praticam a mesma para diminuir a obesidade e, principalmente, são atividades que têm Federações e Confederação. Já tinha a aprovação do Conselho, mas ainda não havia a publicação do Ministério de uma resolução a esse respeito. Hoje (sic) a formulação se deu, até porque nos próprios Jogos Escolares existem a modalidade Capoeira.”
Evidentemente que o conteúdo histórico e cultural da Capoeira a colocam necessariamente a um tratamento diferenciado. Um entendimento especial, por essa razão tal atitude faz parte das ações do programa “Luta pela Cidadania”, lançado em 21 de dezembro de 2015.
Do ponto de vista concreto a decisão significa que o Ministério pode repassar recursos para as entidades legalmente e historicamente constituídas, assim como ocorre com o Tae Kon Do, por exemplo. Cabe aos que praticam a Capoeira como esporte, se organizarem e se estruturarem melhor para resolverem as pendências e querelas se unificarem para que todos possam desfrutar de tão importante acontecimento.
A Capoeira é e permanecerá plural e multifacetada. Quem a prática como lazer,como atividade lúdica, como atividade artística cultural e musical, pode e deve continuar. O Ministério da Cultura, o Ministério da Educação e o Congresso Nacional produziram medidas que a estimulam inclusive com recursos financeiros via editais e emendas parlamentares. Assim não há nem um motivo para haver resistência no meio da “Capoeiragem” contra tão positiva resolução.
A não ser que aqueles que argúem a exaustão a frase atribuída a Mestre Pastinha, “ A Capoeira é todo que a boca come”, estejam utilizando-a como sofisma buscando encobrir objetivos mesquinhos e pessoais.
Parabéns á comunidade capoeirista do Brasil e do mundo essa é uma vitória histórica e cabe a comunidade manter e ampliar tal conquista.