Tzipi Livni e a paz na Palestina

Conforme era previsto, ainda que com margem menor do que as pesquisas indicassem, venceu as primárias do Kadima a advogada e atual chanceler de Israel, Tzipi Livni, para liderar o Partido e, provavelmente, tornar-se a primeira Ministra, a segunda mulher n

Resultado apertado e novo governo


 


 


Conforme havíamos dito na coluna da semana passada, a ministra mais popular do impopular governo de Ehud Olmert foi eleita em votação apertada – em torno de 1% dos votantes – quando derrotou, na quarta-feira da semana passada, o ministro Shaul Mofaz, general da reserva, considerado mais conservador e duro nas negociações com os palestinos.


 


 


Também conforme a constituição israelense, o presidente da República, Shimon Peres, do Partido Trabalhista de Israel, de feição social democrata, acatou o resultado do processo. Em seguida a isso, o atual primeiro Ministro, que vem sendo investigado por corrupção e suspeitas de caixa 2, apresentou sua renúncia formal ao cargo. Nesse sentido, Peres chamou Livni na sede do governo e desde domingo passado, dia 21 de setembro (lá em Israel domingo é o primeiro dia da semana, pois eles guardam o sábado como dia sagrado e dedicado ao culto a Deus), ela foi incumbida da formação de um novo governo.


 


 


Assim, a partir desse momento, Livni tem exatos 42 dias para apresentar a formação de um novo governo. Isso aponta para o dia 2 de novembro, também um domingo, para que a nova possível primeira Ministra, apresente um novo gabinete, com novos partidos e uma nova conformação de forças, que comentaremos a seguir. Ainda dentro do campo das hipóteses, se Livni não conseguir uma maioria simples de pelo menos 61 deputados (a coligação hoje liderada pelo Kadima que tem apenas 29 deputados, possui 67 membros e deputados, ou 55,8%), novas eleições serão convocadas, de forma antecipada, provavelmente para março de 2009 (havíamos anunciado que poderiam ocorrer em janeiro, mas ficaria muito em cima para que a campanha ocorresse).


 


 


Possibilidades e desdobramentos políticos


 


 


Sou da firme opinião de que Livni vai conseguir formar uma nova maioria. Até com apoio do maior Partido de oposição, que é o Likud, de onde saíram todos do atual Kadima, um racha no antigo partido direitista de Israel, cuja liderança hoje esta nas mãos do ex-primeiro Ministro Benjamin Netanyahu. Ninguém quer uma vitória dele em eleições antecipadas. Não interessa a nenhuma força política, a não ser ele próprio, claro, essa antecipação.


 


 


Alguns analistas chegam a dizer que Livni dependerá e estaria até nas mãos de outro Ehud, o Barak, ex-primeiro Ministro e líder do PTI. Não estou de acordo com essa análise. Ela tem outras variáveis para formar o seu novo governo. E este será bem diferente do atual, com outra composição. Senão vejamos.


 


 


A composição atual do parlamento israelense, chamado Knesset (vejam com detalhes em www.knesset.gov.il), é a seguinte: Kadima, com 29 deputados; PTI (Trabalhista), com 19; Likud (direita, oposição), com 12; Shas (direita e governista), com também 12 deputados; Israel Beitenu (Nossa Casa é Israel, direita de oposição), com outros 12; Mafdal (oposição de direita), 9 deputados; Judaísmo Unidos da Tora (oposição), com 6; Meretz (centro-esquerda, fora do governo), com 5; Partido dos Aposentados (governista), com 4; Raam Taal (partido árabe, de centro-esquerda), com 4; Hadash (oposição), com 3; Justiça de Ederly (oposição), com 3 e finalmente, o Partido da Assembléia Democrática Nacional (oposição, democrático de centro-esquerda), com também 3.


 


 


Assim, vê-se de forma clara, que existem muitas variáveis para a formação de um novo governo. Vai depender da concepção de Livni, de sua disposição para a negociação da paz. Veja que os árabe-palestinos têm seu próprio Partido, com quatro deputados, todos do campo progressista, Meretz de centro-esquerda os do PADN. Claro que além dos 29 deputados do Kadima, é preciso buscar mais pelo menos outros 21. Como a composição partidária é pulverizada – lembra-nos um pouco os 18 paridos que possuem cadeiras em nosso parlamento no Brasil – é possível um acerto.


 


 


Aqui vai depender dos interesses do Partido Trabalhista, que joga papel fundamental com seus atuais 19 deputados. Barak pode jogar tudo para não compor o governo e nesse sentido, estará fazendo o jogo de Netanyahu, a quem mais interessa hoje a antecipação de eleições, pois as pesquisas o indicam como preferido nas intenções de voto para liderar um novo governo. Mas, Livni é também muito popular e, no limite, se Barak e Netanyahu apostarem no fracasso da líder do Kadima para formar um novo governo, ela poderia vencer as novas eleições e até ampliar a bancada de seu partido.


 


 


Nunca na história dos 60 anos de Israel um dos partidos existentes fez sozinho 61 deputados e formou sozinho um governo. Sempre houve composição com outras forças e partidos. Entendo que agora, mais uma vez isso vai ocorrer. Interesse até mesmo para o atual governo norte-americano e mesmo para que quer que venha a vencer as eleições em novembro próximo nos Estados Unidos – McCain ou Obama – que um novo governo se estabilize em curto prazo em Israel, para que as eleições possam se transcorrer nos EUA de forma mais tranqüila, sem sobressaltos em Israel. Um dos partidos da base do governo, de extrema direita, o SHAS, com uma bancada significativa de 12 deputados, já anunciou que não vai formar nova maioria com Livni por ela estar mais propensa a negociar o status de Jerusalém com os palestinos nos acordos de paz, ao qual esse Partido é terminantemente contrário a ceder qualquer pedaço dessa histórica e sagrada cidade (para três religiões monoteísta).


 


 


Esse é um assunto polêmico e seguramente voltaremos a ele nas próximas semanas com novos comentários sobre os desdobramentos. Vamos acompanhar de perto

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