Um casal de lobos maus

Todo o mundo conhece a história do Chapeuzinho Vermelho. E sabe que o Lobo Mau inventa coisas para tranqüilizar e atrair a incauta menina. Mas, por pior que seja, o Lobo Mau não finge estar de posse de informações fidedignas repassadas como motivo de deso

A mesma coisa não acontece com certos comentaristas de jornal.


 


 


Um deles tenta ser engraçado ao constatar a alegada complacência do seguro-desemprego com os beneficiários. Um gráfico demonstra (cientificamente!) o paradoxo: enquanto cai o desemprego crescem as despesas com este seguro. O comentarista diz que há algo errado com as regras que permitem tal disparate.


 


 


O leitor menos atento, influenciado pelo gráfico, quase cai na armadilha sem atentar que o aumento do emprego (que é real) tem se dado com acelerada formalização dos contratos e é concomitante com a manutenção de altas taxas de rotatividade. O resultado, provisório, é coerente com os números e suas configurações mas não aponta para o “disparate” e sim para a maior utilização, pelos trabalhadores, do direito ao seguro-desemprego (que era inexistente no regime informal e passa a ser usufruído nas atuais condições melhores da economia).


 


 


Uma outra comentarista apresenta, de maneira arrogante, o dado contraditório do aumento do emprego formal e da renda salarial e o decréscimo do número de trabalhadores sindicalizados de 18,6% para 17,7% da população ocupada. Para ela as coisas acontecem pela força do mercado e os sindicatos pouca ou nenhuma interferência têm nisto. E tome petulância!


 


 


Os mesmos dados que confirmam os aspectos positivos da conjuntura ajudam a compreender porque, em um primeiro momento, a massa de jovens que se emprega (submetidos a mais de uma década de pregação anti-social e anti-sindical) não procura o sindicato; estão ocupados em trabalhar nos novos empregos e necessitam de campanhas sindicais de filiação para se aproximarem dos sindicatos, o que demora um tempo. Outra vez a rotatividade, que é escamoteada, desempenha aqui um forte papel.


 


 


Em ambos os casos se os comentaristas não fossem lobos maus em peles de ovelhas e atentassem para a lógica profunda dos fatos não tentariam vender gato por lebre, mas reforçariam a nossa campanha pela aprovação da convenção 158 da OIT, que proíbe a dispensa imotivada.

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