Um filme poético e mais irônico

Cinema sueco, Irmãos Coen e Marcel Proust são destacados na coluna de Celso Marconi

Se trata do filme chamado “Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência”. Foi lançado em 2014 e agora está sendo exibido no Mubi. É um filme sueco com direção do cineasta veterano Roy Andersson. A referência que temos mesmo da Suécia é que, além de tudo de ser um super país com uma expressiva civilização, vem de lá um mestre do cinema, o cineasta Ingmar Bergman. E também não se pode esquecer a atriz Ingrid Bergman.

Certamente, isso acontece comigo e talvez com alguns outros, mas a verdade é que hoje eu me toco mais com o som. Não só pelos meus problemas físicos de ver e ouvir, mas também porque, como eu vejo filmes hoje no iPad, me facilita ouvir bem o som. E engraçado como a minha impressão sobre o som que se ouve nesse filme de Roy Andersson é de que ele está sendo falado por pessoas que falam uma mistura de inglês com alemão. Começa com vozes mais suaves e depois começam a chegar sons mais agressivos. Isso influi no sentimento que fica das imagens, e estas parecem mais vir de uma Grécia do que de uma Suécia.

Leia também: Festival Curta Cinema começa no Rio com competição que pode levar ao Oscar

O filme começa com três pequenas visões da morte. E há um destaque para esses três pequenos episódios. Primeiro um. Depois outro. E finalmente um terceiro. Até parece que vamos ter um filme curto de uns 25 minutos no máximo. Mas não. O filme continua e demora um pouco mais de uma hora e quarenta minutos. Porém se trata mesmo de um conjunto de curtas, que na realidade estão unidos pelo estilo estético criado utilizado pelo cineasta Roy Andersson. Não é a estória que dá a unidade e mesmo o contexto do filme.

Assim, em torno da morte e também da dança e de tantos outros momentos da vida, o cineasta vai colocando sua visão do mundo do seu país. Ele consegue dar a impressão de que há uma espécie de comportamento que une as pessoas, mesmo quando estão vivendo momentos inteiramente diferenciados.

Um trabalho mais conhecido dele se chama “Um Love Story Sueco”, que foi lançado em 1970.

Olinda, 04. 11. 22

A balada de Buster Scruggs

Sem dúvida, das artes consideradas maiores o cinema é a mais ligada à economia. Não sei quanto é, mas não é pequeno o orçamento de Hollywood. E penso mesmo que talvez a sociedade dos homens estivesse hoje bastante diferente, se os dirigentes da União Soviética a partir de Lenin tivessem olhado para o cinema com a mesma agudeza dos grandes capitalistas norte-americanos. Hoje talvez quem pudesse mandar no cinema em relação à economia seriam os chineses, mas isso não é uma questão que possa se resolver somente com o aspecto econômico.

Nunca você é grande cineasta se o seu interesse único é ganhar dinheiro. E um exemplo disso no cinema norte-americano são os Irmãos Coen, assim chamados os Ethan e Joel Coen, que já fizeram uma longa vida profissional, e agora a Netflix está exibindo deles o filme “The Ballad of Buster Scruggs”. O que me lembro mais dos seus filmes é um chamado “Barton Fink – Delírios de Hollywood”, entre vários outros que cheguei a comentar no meu tempo de crítico. A verdade é que os Coen não se submetem totalmente aos ditames de Hollywood e buscam fazer filmes com, vamos dizer, privacidade. Isto é, filmes que possuam a cara de um cineasta e que não sejam um produto industrial para entrar no mercado. A ironia é a base principal para a criação do estilo dos Coen.

Esse “A balada de Buster Scruggs” foi lançado em 2018 e me parece trazer o estilo e mesmo o gosto pessoal dos dois cineastas que trabalham em conjunto até hoje. Dizem que um deles está querendo parar. É natural. O filme é um conjunto de seis curtas que se ligam intimamente pelo fato de virem de uma mesma fonte, um livro fictício chamado “The Ballad for Buster Scruggs”, e assim serem mais ou menos ligados ao gênero western.

Leia também: Chico Buarque entrará com nova ação após juíza negar que “Roda Viva” é dele 

Embora todos curtas apresentem como elemento principal o estilo satírico dos Coen, as estórias são mais ou são menos dramáticas e, assim, agradam mais ou agradam menos. Para mim, a mais ‘divertida’ é a primeira, que conta três mortes de forma mais ou menos natural. E a segunda é bem ‘faroeste’, quando um ‘matador’ sai matando muitos outros e termina enfrentando um que o mata. O final do curta é o ‘matador’ subindo para o céu. Divertido.

Olinda, 10. 11. 22

Marcel Proust em exposições

Duas exposições sobre o escritor francês famosíssimo no Brasil Marcel Proust. Em Paris. Uma exposição está na Biblioteca Nacional François Miterrand e se chama “A fábrica da obra”. E a outra é no Museu de Arte e História do Judaísmo e se chama “Do lado da mãe”. O importante para nós aqui é que estão no YouTube duas excelentes reportagens sobre as duas mostras.

A primeira é uma amostra de como Proust construiu a sua obra. E assim tem em exposição inúmeros manuscritos, as páginas trabalhadas pelo autor, que escrevia e riscava e não jogava as páginas fora como muitos fazem, mas  continuava adiante. A matéria entra em muitos detalhes, e certamente é muito importante para que tenhamos uma ideia expressiva.

A outra tem o título “Du côté de la mère”, e o que mostra em detalhes são as ligações judaicas de Marcel Proust. Ao mesmo tempo, utiliza muitos trabalhos artísticos como ilustrações. Como o escritor é uma das personalidades mais famosas da França, certamente cada um puxa o assunto para seu lado, inclusive com explicações para o fato de Proust ter sido católico.

Quem gosta de Marcel Proust terá muito que ver nessas duas exposições feitas por especialistas franceses.

Olinda                             19. 11. 22

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor