Um gigante

No próximo vinte e sete de outubro comemora-se o aniversário do nascimento de Graciliano Ramos. Gênio da literatura brasileira, alagoano de nascimento, encarnou sem concessões o mais profundo espírito do nordestino sertanejo.

Carrancudo, rígido com as palavras, avesso a salamaleques, dotado de extraordinário senso crítico, revelou-se um grande analista da condição humana, partindo da dissecação da realidade concreta.


 



No entanto, o realismo de Graciliano dispensava fórmulas pré-estabelecidas que desvirtuassem ou enquadrassem a sua produção literária. Através da sua obra, das suas opiniões sobre as coisas, suas posições políticas, do seu comportamento, fica a nítida impressão do sofrimento como fonte inspiradora da sua arte.


 


Um sofrimento de quem possuía a singularidade artística de compreender as dores do mundo. É bom que se diga que eram as dores sociais e aquelas decorrentes da condição humana, para além de um tempo histórico determinado. Porque o mestre Graça aventurou-se também no complexo e confuso estudo da alma humana.


 


Nas duas linhas de pesquisas que constituíram a sua produção, a social e a individual, o homem não se encontra dissociado do meio em que vive, pelo contrário, é agente e conseqüência desse universo.


 


Uma das razões do sofrimento de Graciliano reside exatamente na sua luta em permanecer inteiro em seu objetivo de retratar e ser completamente fiel ao mundo investigado e não criar personagens com perfis psicológicos inverídicos.


 


Foi nessa linha que surgiram Vidas Secas, São Bernardo, Angústia, Memórias do Cárcere e vários outros livros. Seria impossível, por exemplo, que em Memórias do Cárcere, Graciliano não mostrasse a opressão, a torpeza, a humilhação, a resistência dos perseguidos e ao mesmo tempo ignorasse o perfil psicológico daqueles com que conviveu em tremenda adversidade. Não era do seu feitio.


 


Assim também foi com Fabiano, de Vidas Secas. Um homem pobre e ignorante, sertanejo embrutecido pela vida e o meio ambiente. Graciliano jamais enfeitou os seus personagens, transformando-os em seres irreais. E isso exigiu, convenhamos, imensa coragem e muito caráter.


 


Graciliano Ramos foi um individuo autêntico, um excepcional escritor, traduzido em dezenas de países. A sua vida e a sua obra se confundem.

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