Um presidente amigo das mulheres do mundo
Emocionada, li a primeira notícia do governo Obama sobre as mulheres, em 22.1, dia em que a decisão da Suprema Corte que garante o direito ao aborto nos Estados Unidos fazia 36 anos. Falo da ''Roe versus Wade'' – ''o aborto deve ser permitido à mulher, po
Publicado 28/01/2009 11:49
O presidente Obama emitiu nota dizendo: ''Continuo determinado a proteger a liberdade das mulheres de escolher entre ter um filho, ou não'' e que ''a data nos lembra que essa decisão não apenas protegeu a saúde das mulheres e a liberdade reprodutiva, mas simboliza um princípio maior: que o governo não tem de se intrometer nos assuntos familiares mais íntimos''. O gesto presidencial de referendar a ''Roe versus Wade'' se contrapõe ao autoritarismo deslavado de tradicional passeata contra a ''Roe versus Wade'' que os ''pro life'' realizam a cada 22 de janeiro, desde 1974, em Washington.
Alguns jornais brasileiros cravaram a marcha como o primeiro protesto contra Obama! Engano. É uma expressão fundamentalista que há 35 anos tenta expurgar o direito ao aborto. Os ''pro life'' sabem que um presidente não pode derrubar decisão da Suprema Corte, mas pode cercear o acesso à garantia de direitos nela consagrados. O presidente acrescentou que está ''ansioso para trabalhar com o Congresso para restaurar o apoio financeiro dos EUA ao Fundo de População das Nações Unidas'', pois Bush desde 2002 não contribuiu com o fundo, demonstrando que considerava recursos governamentais como de sua propriedade privada e os usava ao seu bel prazer, inclusive para e ser contra as leis do seu país e descumprir compromissos de Estado, no caso contribuições devidas às Nações Unidas!
O presidente Obama baniu, por decreto, a proibição de ajuda, por parte de organizações beneficiárias de financiamento dos EUA, a instituições de outros países provedoras de abortamento seguro ou que oferecessem informações e aconselhamento sobre aborto – medida consubstanciada também na restrição de fundos dos EUA para planejamento familiar e exigência de contrapartida de países e instituições de qualquer parte do mundo de não usar fundos próprios para qualquer ação favorável ao aborto. Eis o cúmulo da arrogância e do desrespeito à soberania dos outros países!
A ''proibição'', ''Regra Global da Mordaça'' (Global Gag Rule), de extração republicana, foi instituída no governo Reagan em 1984; mantida por Bush pai (1989-1993); anulada no governo Clinton (1993-2001); revivida por Bush filho no seu primeiro dia de governo (20.1.2001); em si, é um ato insano: legislar sobre o território dos corpos das mulheres do mundo. Os governos disseram amém. Nenhum esboçou reação contrária. No I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (25 a 30.1.2001), feministas realizaram vigoroso protesto, o primeiro contra Bush, com alguns lemas: ''As mulheres do mundo sabem que republicanos e democratas não são a mesma coisa''; ''Reaja contra o fundamentalismo: Bush invadiu e ocupou o território dos corpos das mulheres''; e ''Tua boca é fundamental contra o fundamentalismo''. Espera-se que o Fórum Social Mundial 2009 (27.1 a 1º. 2.2009, em Belém) reconheça a dimensão histórica, social e política do gesto do presidente Obama, amigo das mulheres, da comunidade LGBT e da ciência, como um aceno de que a democracia burguesa pode prescindir de se pautar pela crueldade fundamentalista fortalecendo o Estado laico.