Uma pausa para os “bumbás”

Tenho procurado utilizar esse precioso espaço para polemizar os mais diversos assuntos, com ênfase para a temática da sustentabilidade e as questões amazônicas em particular. Hoje, destaco um aspecto pouco discutido dessa particularidade: a riquíssima cultura amazônica.

Durante os dias 24, 25 e 26 de junho, a cidade de Parintins se transmuta: deixa de ser a pacata cidadela dos “parintintins” para se transformar na metrópole regional da cultura, onde há quase 50 ocorre o festival folclórico e Parintins, estruturado em torno da disputa dos bumbás Garantido (vermelho) e Caprichoso (azul). A cidade está localizada na ilha Tupinambarana, à margem direita do majestoso Rio Amazonas e aaproximadamente 420 km ou 20 horas por via fluvial de Manaus. Por avião há 1 hora.

Durante o festival uma multidão de mais de 50 mil pessoas migra para a ilha. Na carência de alojamentos que possa suportar esse enorme contingente sazonal – o que não motiva os empreendedores a construírem uma rede de hotéis – os visitantes geralmente se acomodam em barcos regionais, o que acaba se transformando num espetáculo a parte pela quantidade de barcos que se transformam em hotéis fluviais.

A disputa se dá numa arena – o bumbódromo – sob os olhares atentos e apaixonados de mais de 50 mil torcedores apaixonados e não raro fanatizados, a ponto de alguns só usarem indumentárias, incluindo cuecas e calcinhas, nas cores de seu bumbá predileto, ou seja, vermelho para os apaixonados pelo Garantido e azul para os não menos apaixonados torcedores do Caprichoso.

A rivalidade é tamanha que lá a Coca Cola (patrocinadora do espetáculo) muda de cor: na área do Caprichoso suas indefectíveis cores vermelhas são substituídas pelo o azul, em respeito ao bumbá “dono” daquele pedaço. Fenômeno que se repete com os demais patrocinadores. As cervejarias, por exemplo, já envasam sua cerveja em latas bicolor, vermelho e azul.

Mas, afora a disputa do espetáculo, em boa medida estimulada por razões mercadológicas, o que conta mesmo é o seu conteúdo: a reafirmação de uma cultura, das lendas amazônicas, do resgaste das tradições indígenas e da valorização de um povo que contrariando a logica macabra de produtivistas e santuaristas teima em não desaparecer e se firmar socialmente, economicamente e também culturalmente. Nome de um dos povos indígena que habitava aquela ilha quando da colonização portuguesa.

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