Uma pesquisa em três blocos

A centésima pesquisa realizada pelo Instituto Sensus para a Confederação Nacional dos Transportes (patronal) apresenta três grandes blocos de informações que mereceram tratamento diferenciado dos meios de comunicação.

O primeiro bloco, referente às intenções de voto para a próxima eleição presidencial e que revela a candidata Dilma empatada com o candidato Serra (superando-o, aliás, na enquete espontânea) mereceu quase toda a atenção e desencadeou uma avalanche de manchetes, menções e comentários. Sobre este bloco não tenho nada a acrescentar.

O segundo bloco, quase obscurecido nas notícias e análises, indica a percepção de que o País está melhorando de modo generalizado na avaliação do eleitorado sobre emprego, renda mensal, saúde, educação e segurança. Conforme registra Wilson Tosta, em O Estado de São Paulo (um dos raros a comentar o assunto): “nos cinco temas, ao avaliar o desempenho de cada setor nos seis meses anteriores à sondagem, o porcentual de eleitores que viram avanço aumentou ou oscilou para cima e caiu a proporção dos que apontaram piora em comparação com a pesquisa de novembro de 2009”.

O terceiro bloco, referente à socialização dos eleitores em um período de dez anos, mereceu um denso comentário de Raymundo Costa, no jornal Valor Econômico, sob o título “o marasmo sindical no Governo Lula”.

A pesquisa revela que, entre os indicadores de associativismo (participação em partidos políticos, em movimentos sociais, em associações de pais e mestres, em ONGs e sindicalização) os pesquisadores identificaram 5,3% de sindicalizados entre as pessoas entrevistadas; em novembro de 2000 a proporção era de 5,7%. Daí o “marasmo”.

Dois membros do DIAP, o Toninho e o Marcos Verlaine procuraram explicar ao jornalista as causas deste fenômeno mencionando o “bombardeio da imprensa neoliberal”, desmobilização e falta de quadros.

Juntamente com estas eu acrescento o retardo, que sempre existe, entre a organicidade e a ação sindical efetiva. Em um primeiro momento a ação sindical unitária garante avanços, apoiando-se em uma conjuntura favorável. Na seqüência surge a necessidade da ampliação das filiações que enfrenta as dificuldades da jovem mão de obra que entra no mercado de trabalho, mas ainda não foi convencida das vantagens da ação sindical solidária.

O que este terceiro bloco da pesquisa demonstra é uma admirável resistência da organização sindical que teve queda menor que a de todas as outras formas, exceto a das ONGs, que subiu. A ligeira queda, em dez anos, acontece apesar da rotatividade e da informalidade da mão de obra, ambas na casa dos 50% e aponta a necessidade, daqui para frente, de um grande trabalho de sindicalização, formação e unificação dos novos trabalhadores.

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