Unegro-SP e a luta contra o racismo

Concluo com este artigo uma opinião iniciada em artigos anteriores, que por falta de espaço, foi dividido em três partes. No artigo anterior terminei com uma pergunta? Por que se nós somos vitimas comprovadas de racismos e preconceito a “versão” que éramos um paraíso racial durou tanto tempo? Existem, penso, vários motivos e explicações para isso.

Algumas eu acredito ser importante destacar enquanto opinião minha.

O primeiro deles é que no Brasil a mestiçagem foi muito intensa. O colonizador português não era avesso a miscigenação, em determinado período até incentivou, o que ajudou a criar aqui um grau de mistura genética inusitada em qualquer lugar do mundo. O geneticista Sérgio Pena da UFMG, em estudo publicado em 2004, mostrou que por baixo da pele, as características do brasileiro são muito misturadas. Um branco do Sudeste ou do Nordeste do país, por exemplo, possui em média 30% de genes com origem nos povos da África.

Já nos negros, o numero de genes africano é um pouco maior: 55%. Na aparência, entretanto as pessoas continuaram a parecer brancas e negras, com traços como cabelo encarapinhado, nariz largo e pele escura sempre andando juntos. Enquanto os genes se misturavam parece ter havido uma seleção para que a aparência permanecesse igual. O que levou no Brasil a que a descriminação não fosse deita, nestes casos, pela origem familiar, como nos EUA, por exemplo, e sim pela aparência. Quem não se lembra do Ronaldo fenômeno, jogador de futebol, se dizendo não negro, embora com traços evidentes. Apoiou-se na cor da pele mais clara para refutar sua condição. Mesmo em famílias negras, os filhos de peles mais claras, eram no caso do NE, persuadidos a casarem com brancas o que objetivava, mesmo de forma inconsciente, amenizar a discriminação. Em resumo os genes africanos tiveram ascensão social, mas as pessoas de pele negra continuaram pobres e discriminados.

O outro aspecto tem a ver com identidade nacional. No inicio do século 20 o Brasil possuía varias colunas de imigrantes, ligados mais ás suas regiões de origem do que ao Brasil. Havia uma necessidade de unificar o país em uma mesma cultura e dar a eles uma origem e tradição. O modernismo da Semana de 22 e a “Revolução” de 30 com Getúlio Vargas o Brasil começa a pensar em si mesmo como uma civilização híbrida e miscigenada, capaz de absorver e abrasileirar as manifestações culturais de diferentes povos que para o nosso país imigraram. A idéia propagandeada era que os brasileiros constituíam uma só raça, um povo mestiço.

Na realidade essa idéia de que éramos um caldeirão de “raças” e culturas vivendo em harmonia impediu, de certa forma, que os negros denunciassem o racismo e reivindicasse melhores condições. A imagem dos negros nativa teve uma aceitação, muitas vezes aparente, pois as pessoas de peles negras continuaram na base da pirâmide social como os mais pobres entre os pobres. A forma mais eficiente de reforçar o preconceito e o racismo é achar que ele não existe ou que é natural. Pois o nosso problema não esta, como em outros locais no mundo, em lutas sangrentas entre brancos e negros, mas em detalhes do nosso dia-a-dia. Afinal qual negro de terno no Shoping não foi confundido com segurança? Quantas vezes negros dirigindo carros novos são tratados como chofer? Às vezes temos a impressão que há uma cota para branco implícito em tudo. E esta realidade em São Paulo é ainda mais marcante. Os negros bem sucedidos em sua grande maioria não se sentem discriminados, mas são. E não adianta esconderem-se atrás de altos cargos, funções e companhias brancas que são sim. E a reação do nosso movimento negro aqui no estado, não leva isso em consideração para desenvolver suas táticas de atuação. Termina sendo fruto da militância de alguns abnegados que se esgoela para os mesmos as mazelas deste mal medonho que é o Racismo.

É preciso neste momento em que a UNEGRO SP faz sua importante plenária que seus militantes e membros reflitam sobra a necessidade imperiosa de revermos conceitos, mecanismo e formas que busquem ampliar nossas ações, para que possamos impactar positivamente por meios de ações políticas, teóricas e sociais eficazes.

Não haverá luta vitoriosa contra o racismo sem envolver, além (e não só) dos anti-racistas e anti-preconceituosos, todos aqueles que não são racistas. Dando, assim, real amplitude à entidade em pensamentos, palavras e obras!

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor