Utopias e cobranças pelos vândalos
Brasília é analisada cinquenta anos depois de construída para levar a vida política brasileira a conhecer a realidade central de um país imenso e imensamente explorado por colonialistas, aventureiros, oligarcas e emissários do imperialismo – os vândalos da história.
Publicado 28/04/2010 20:15
Os arquitetos Lúcio Costa e Óscar Niemeyer projetaram uma cidade para albergar as instituições politicas e administrativas oferecendo aos futuros governantes do Brasil uma visão mais profunda de uma nação em crescimento com um povo a ser respeitado pelas suas crenças, tradições culturais e utopias.
Com belas linhas foram desenhados os modernos edifícios do Governo democrático que Juscelino queria inaugurar, os Ministérios, a Igreja para uma comunidade capaz de apreciar a arte e valorizar o ambiente suave que convida à reflexão, (não uma grande e opressiva catedral), um símbolo inspirado na foice e o martelo (da luta dos comunistas em todo o mundo), que poucos têm coragem de referir como parte da paisagem de Brasília que integra a utopia nacional projetada como semente democrática dos futuros governos. O respeito pelos ideais do povo brasileiro sedimenta no projeto o sonho da democracia que estará sempre em formação.
Discutem-se os mil problemas urbanísticos, sociais e económicos da periferia, como se os que idealizaram Brasília pudessem implantar um plano político que transformasse o sistema capitalista agregando a justiça social a ser aplicada através de leis, organização institucional do Estado, formação de comportamento cívico. Os bairros onde os candangos foram viver, assim como os loteamentos comercializados pelas empresas especuladoras para ricas mansões, são consequência do sistema económico e político que permitiu a ditadura e neo-capitalismo que ainda mantêm as suas raízes em todo o país, não só em Brasília.
Aqueles símbolos das crenças e ideologias populares que surgem como utopias no grande projeto urbanístico ainda inspiram os que fazem a história recente do Brasil, os que continuam a lutar pela expansão e consolidação da democracia, os que têm esperança no futuro. Justamente os que fazem oposição aos programas de desenvolvimento social do Governo Lula – programas estes que criam as bases concretas para que toda a população seja atendida democraticamente pelo Estado – são os que apontam a expansão caótica da periferia de Brasília (com favelas amontoadas, ocupação de recursos ambientais para ricas moradias, problemas de infra-estrutura etc.) como “falhas no plano urbanístico”. A cidade atrai os moradores que lá vão trabalhar e as carências dessa população, condicionadas pelas formas de exploração humana no trabalho e de especulação na venda de lotes e moradias, criando situações de marginalidade na ocupação do espaço e na vida social características do sistema capitalista vigente.
A experiência de uma governação democrática no Brasil foi conduzida por Lula nos últimos oito anos. Houve erros? Claro, com em toda realização de um projeto. Não é possível definir um plano prevendo a ação dos inimigos que minam o território. Como a construção daquela obra pioneira que transferiu administração política nacional do litoral para o interior de Brasil desvendando a realidade bastante desconhecida no século XX.
O programa de democratização da sociedade brasileira chegou a ser implantado cinquenta anos depois, já no século XXI. Os que lutaram, tanto por ampliar o conhecimento do território profundo como por semear a democracia de modo a trazer toda a população brasileira a participar da construção nacional, sabem que grandes passos históricos foram dados, mas é preciso continuar com este rumo por ainda muitos anos vencendo os opositores e os gananciosos anti-democráticos.
O candidato Serra, da oposição, expôs em Minas Gerais a sua intenção, se for eleito, de mudar o programa de desenvolvimento construído por Lula, acabar com o PAC, abandonar o Mercosul, alterar o funcionamento do BNDES. Com esta declaração de intenções de absoluto vandalismo sobre o que tem sido construído com apoio da população brasileira, que já começa a sentir os benefícios proporcionados à melhoria das condições de vida dos mais pobres, promete a volta de uma elite sempre egoísta ao poder. Aquela elite responsável pela existência das favelas miseráveis das periferias urbanas, pelos loteamentos irregulares sobre as nascentes dos rios e no meio dos parques naturais, pelas injustiças sociais que penalizam os mais pobre e deixam os ricos impunes.
As próximas eleições oferecem uma oportunidade para prosseguirmos as conquistas brasileiras iniciadas. Manteremos o rumo democrático dos planos que têm aberto o caminho da democracia com o conhecimento profundo do território brasileiro e a participação de todo o povo. Não queremos que destruam o que conseguimos construir através de séculos de luta e que mereceu o apoio de vários líderes internacionais em todo o planeta.