Vencemos, mas as oposições não estão mortas

As oposições não são mais aquelas – por enquanto. É que, derrotadas na eleição presidencial e com sofrível desempenho na maioria dos estados – salvo as importantes exceções de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal – dedicam-se a la

Vale para o PSDB e para o PFL, que se estranham em toda parte, vale também para aqueles que cumprem o papel de forças de reserva da direita, feito o P-SOL, às voltas com um bate-boca interno iniciado com o dilema voto nulo ou apoio crítico a Lula, no segundo turno, e que tende a se prolongar.


 


Faltaram votos, diminui a cota de participação no poder real. E, como diz o nosso povo, em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Nesse caso, a razão é dada pelas projeções de interesses que miram 2008, quando teremos as eleições municipais, e 2010, na sucessão de Lula. Aí se fundem insatisfações com os insucessos de outubro e o apetite em relação ao futuro. Brigam peixes grandes, de olho no Planalto e nos governos estaduais, e também os miúdos espalhados pelo imenso mar formado pelos mais de cinco mil municípios brasileiros.


 


O PFL, pela voz do seu atual presidente senador Jorge Bornhausen, em plena decadência e rumo ao ostracismo, avisou tão logo apurados os votos do segundo turno que preferiria agir por conta própria, ainda que em combinação com o PSDB, porém sem os encargos de uma aliança formal. Os tucanos, por sua vez, mais empenhados estão na tensa disputa entre o governador mineiro, Aécio Neves, e o paulista José Serra.


 


Porém – e sempre tem um porém, no samba e na política – ninguém se engane: as forças de oposição ao governo Lula têm muito poder de ação, não estão mortas. O arranca-rabo de agora é a ante-sala de uma redefinição de rumos, de lideranças e de métodos – e já em janeiro botarão as unhas de fora. Com ousadia e agressividade. A correlação de forças que emerge das urnas de outubro é bem melhor do que há quatro anos atrás e nem se compara com a do último ano do primeiro mandato do presidente. Mas essa gente tem lideranças importantes, quadros experientes, força política e econômica, ligações internacionais, simpatia do Judiciário e apoio explícito da chamada grande mídia. E uma agenda.


 


Na agenda, desde já, pontificam a tentativa de boicotar as alterações na política macroeconômica em favor do deslanche do crescimento com distribuição de renda – bombardeando-as pela mídia e minando-as por dentro do governo e no Parlamento – e o recrudescimento de iniciativas que questionem a legitimidade do mandato presidencial, no sentido de enfraquecer Lula e evitar que ele crie condições de fazer o seu sucessor.


 


Cabe, portanto, prestar atenção à correlação de forças, não subestimar as oposições e cuidar de bem administrar a ampla frente política e social que garantiu o segundo mandato do presidente.

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