Viver é destino dos fortes

O enunciado do título, que figura entre uma das mais belas estrofes do hino do amazonas, não é apenas uma bela composição poética. Está carregado de simbolismo e de expressivo conteúdo. A estrofe completa, escrita pelo poeta amazonense Jorge Tufic, sentencia que “viver é destino dos fortes, assim nos ensina, lutando, a floresta”.

Viver é destino dos fortes em qualquer lugar, como fica patente pelo desabafo de Vladimir Maiakóvisk censurando o suicídio de seu amigo Sierguei Iessiênin: “difícil não é a morte, mas a vida e seus ofícios”, o que restou provado quando ele próprio se suicidou. Mas, na Amazônia, dada a sua complexidade, viver assume caráter excepcional. Os fatos são abundantes

A dialética da natureza de Engels e a teoria da seleção natural das espécies de Darwin dão a dimensão teórica e filosófica do enigma. A bravura diária de seus conquistadores, de ontem e de hoje, são a expressão prática desse desafio.

Pedro Álvares Cabral, em 1.500, levou 43 dias para sair de Portugal e chegar ao Brasil, para onde ele navegou, digamos assim, no instinto. Tinha apenas uma vaga noção de que havia terra naquela direção. Foi um tempo longo, considerando o que se pode fazer nos dias atuais. Mas o que dizer da aventura do espanhol Francisco Orellana, que partiu de Quito (Equador) em pleno natal de 1.539 e levou dois anos e oito meses para chegar à foz do rio Amazona?

Ainda mais méritos possuem, sem dúvidas, os primeiros ocupantes dessa enorme região amazônica: os eurasianos, vulgarmente conhecidos como “índios”, que habitavam essa região quando aqui chegaram os colonizadores europeus (portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, ingleses). Esses, segundo as teorias mais recentes, atravessaram o estreito de Behing e caminharam fugindo da glaciação até encontrarem, em sucessivas levas, a exuberante Amazônia. Maias, Astecas e Incas ostentavam grande organização social e produtiva quando da chegada dos europeus contemporâneos. Outros ainda viviam em condições bastante rudimentares, mas com uma característica comum: haviam dominado satisfatoriamente o meio ambiente e dele tiravam o seu sustento sem comprometê-lo. Lutaram. Mataram, morreram, fugiram, se adaptaram ou foram extintos. Eram bravos, mas se debateram – sem juízo de valor moral – com aventureiros igualmente bravos e determinados, como fica patente na atitude de Cortez. Ao desembarcar no México mandou “queimar as caravelas” para sinalizar que não havia retorno, não tinha hipótese de partida. Era a vitória ou a morte.

Essa atitude de Cortez, nos dias atuais, é geralmente associada a outro fato histórico da antiga Roma “atravessar o Rubicão” e verbalizada, geralmente nos meios políticos, como um fato único: “atravessamos o Rubicão e queimamos as caravelas”, para indicar que tal acordo ou aliança política está irremediavelmente comprometido.

Os índios eram milhões. Segundo Padre João Daniel só do rio negro “desceram” mais de 3 milhões de índios de diversas etnias. Os dados são distintos, mas a maioria dos estudiosos convergem para números próximo de 7 milhoes de pessoas como sendo a população efetivamente existente na área por época da chegada dos espanhóis e depois os portugueses.

Restaram poucos, mas resistem.

Ao encerrar 2010 rendemos nossas homenagens e respeito a todos aqueles que resistiram, assim como aos patriotas, como Rondon, que lutaram para integrar a Amazônia sem destruir a vida, os valores e a cultura dos que aqui viviam e vivem, numa demonstração que não há contradição insanável entre essas culturas.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor