Voto útil é aquele que garante o 2º Turno, o resto é bobagem

No momento que escrevo este artigo faltam três dias para o primeiro turno das eleições de 2018. No campo popular progressista, o que mais se fala é em quem votar e qual o melhor candidato para combater o fascista, líder das pesquisas de intenção de voto desde que a candidatura de Lula foi, de maneira absurda, cassada.

O primeiro ponto que é preciso avaliar é: quem tem chances reais de ir para o segundo turno? Pode parecer óbvia esta observação, mas ela não é clara para todo mundo, parcela importante dos eleitores de classe média, os ditos “formadores de opinião”, não parecem entender os gráficos das pesquisas eleitorais, muito menos suas tendências.

Sem entrar no mérito das metodologias usadas, praticamente todas apontam Fernando Haddad (PT) entre 10 e 15% a frente de Ciro Gomes (PDT). Essa diferença seria de cerca de 13 a 16 milhões de eleitores. De maneira tranquila, pode-se afirmar que é matematicamente inviável superar tudo isso em tão pouco tempo, estamos falando em virar mais 100 mil votos por hora do petista para o pedetista até domingo! Algo completamente insano!

Outro ponto importante a ser observado são as tendências de crescimento: até o início dessa semana, somente Haddad mostrava uma curva ascendente, Ciro mostra-se estagnado na faixa de 10% há cerca de um mês, variando muito pouco de acordo com as metodologias usadas por cada instituto. Será que alguém em sã consciência acha mesmo que existe probabilidade estatística disso mudar em cerca de 72 horas? Improvável né?

Outro ponto que vejo algumas pessoas usarem de argumento, é que o representante do PDT teria mais chance de vencer o atual líder das intenções de voto se comparado ao escolhido por Lula. Pensando pragmaticamente, para disputar o segundo turno, é preciso estar no segundo turno, portanto, com mais de 10 milhões de votos de diferença e uma curva de crescimento estagnada, será mesmo que o ex-governador do Ceará tem maiores chances de ir para a próxima fase do pleito eleitoral se comparado ao ex-prefeito de São Paulo?

Tem sido comum também a apresentação da rejeição ao PT como argumento para não se votar em Haddad no primeiro turno e que isso o coloca em desvantagem no segundo. Pois bem, observando-se os números de 2014, Dilma tinha rejeição superior ao atual candidato de seu partido e o tucano Aécio Neves rejeição menor que o “Coiso”. Na hora de se abrir as urnas, a vencedora foi a ex-presidenta, mostrando a fragilidade desse argumento.

Ainda em cima do chamado “antipetismo”, cabe lembrar que todos os adversários do PT usam dessa ideia desde 2006, repetindo novamente em 2010 e 2014. Em todos, essa ideia foi derrotada, mostrando mais uma vez que assim como existe quem odeia, tem quem ama esse partido, não à toa é a maior agremiação de centro esquerda da América Latina e o partido mais citado na preferência dos eleitores em pesquisas acerca dessa temática.

Merece também atenção a mudança das curvas de tendência do candidato do PSL. Após a famosa facada e os imensos atos #Elenão, protagonizados por mulheres do país todo, alguns institutos de pesquisa indicaram leve crescimento em suas intenções (já altas) de voto. Isso pode ser explicado em parte pela comoção causada pelo atentado e em parte pela rejeição de parte do eleitorado aos atos de sábado.

Antes que me acusem de dizer que as manifestações foram um erro (eu não acho isso), é preciso entender como isso foi capitaneado pela candidatura do “Coiso”, fortíssima nas redes sociais.

Usando de mentiras, espalhando vídeos falsos e imagens montadas, os coordenadores da campanha de extrema direita, levaram o debate para a sua arena favorita: o campo da moralidade. Como parcela importante da população brasileira é religiosa e, em sua maioria, conservadora nos costumes individuais, o que era para ser um pedido de socorro pela democracia, se tornou (para essas pessoas, que são o seu foco eleitoral), com apoio da mídia hegemônica que não cobriu os atos, uma espécie de “Sodoma e Gomorra”, algo que, sem dúvida, não tem absolutamente nada a ver com as belíssimas manifestações ocorridas.

Sem entrar no mérito, o fato real, de acordo com alguns institutos de pesquisa, é que a campanha do PSL acabou por capitanear melhor tudo isso, o que é preocupante faltando tão pouco para a eleição, pois a estratégia dessa turma é clara: apostar tudo para vencer no primeiro turno!

Estando entre 28 e 32% das intenções de voto e sabendo que parte dos eleitores do segundo colocado podem vir a migrar para o terceiro (ou até quarto colocado, pois Alckmin está em empate técnico), a tática dos fascistas será criar ainda mais rusgas entre a já trêmula relação entre haddadistas x ciristas, com o apoio da mídia, de modo a acabar o jogo no próximo domingo.
Não podemos cair nessa cilada, é preciso entender como as peças estão sendo mexidas e agir de acordo com elas, não de acordo com o que nossa opinião pessoal quer!

Desta forma, de maneira simples e baseada em números, podemos concluir que a única candidatura que apresenta chances reais de evitar uma derrota da democracia no primeiro turno é a de Haddad e seu mote (bem como de seus apoiadores) precisa deixar de ser, principalmente, o debate identitário, deixá-lo para os movimentos e apoiadores que atuam nesse campo me parecem ser a melhor saída! O povo quer saber de formas reais de vencer o desemprego, de ter segurança, de abaixar o valor dos combustíveis e dos alimentos! Não sou quem está dizendo, são as pesquisas sobre esses temas!

Ou deixamos nossas diferenças e vaidades de lado e buscamos garantir o único que tem chances reais (de acordo com as pesquisas) do campo popular democrático no segundo turno, ou estaremos todos perdidos.

Paz entre nós, guerra os senhores!

Até a próxima.

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