Vozes diferenciadas no arco-íris do governo Lula

Opinar em público sobre questões polêmicas obviamente não significa necessariamente a crítica ou o combate ao governo.

Ministério de Lula tem amplo espectro político. Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Na política, como na vida, a ansiedade frequentemente atropela as palavras e o sentido das coisas. 

Acontece no seio das melhores famílias, ou seja, entre os combatentes mais aguerridos e bem intencionados.

Por isso, nunca é ocioso esclarecer: 1) o êxito do governo Lula é tarefa central de todas as forças do campo democrático, popular e progressista; 2) propósitos e ações do governo sempre e invariavelmente serão objeto de debate — seja pela sua complexidade, seja pela ocorrência de compreensões diferenciadas sobre esses problemas e suas possíveis soluções.

Isto significa que o debate de ideias no interior do governo e no seu entorno é essencial ao êxito do próprio governo.

Partidos políticos que integram a frente ampla democrática e progressista liderada pelo presidente Lula têm não apenas o direito, mas o dever de expressar suas opiniões próprias.

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No caso do PCdoB — corrente política embandeirada da luta pela unidade da frente ampla e pelo apoio ao presidente Lula —, essa questão se insere na concepção de que é preciso, no âmbito das coalisões, exercer dialeticamente a relação entre a unidade e a luta, entre empenho pela amplitude e a preservação de suas próprias concepções.

Já em 1966, sob as condições absolutamente difíceis da ditadura militar, o PCdoB praticava essa conduta tática ao propor, em sua 6ª Conferência Nacional, a “União dos brasileiros para livrar o país da crise, da ameaça neocolonialista e da ditadura”.

No texto, a explicitação clara da relação entre unidade e independência.

E, nas décadas que se sucederam, essa conduta tática sempre esteve preservada.

Tanto que em junho de 2003, por ocasião do primeiro governo Lula, do qual o partido participou em nível de ministério, a 9ª Conferência Nacional adotou conduta tática a um só tempo “propositiva e crítica”, expressão atualizada do compromisso inarredável com o êxito do governo de então, do empenho em sua unidade e ao mesmo tempo expressão de opiniões partidárias próprias.

Opinar em público sobre questões polêmicas obviamente não significa necessariamente a crítica ou o combate ao governo; antes uma contribuição ao próprio governo, que precisa da compreensão e do apoio do conjunto da sociedade e da classe trabalhadora em particular.

No arco-íris da frente ampla governista, o vermelho há de ser visto.

Este é o ponto. Não cabe nessa questão misturar alhos e bugalhos. Nem inibições despropositadas.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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