Walter Salles na estrada

O cinema de Walter Salles em “Na Estrada” e o conto Fernanda III, de Celso Marconi

É um filme que se chama no Brasil “Na estrada”, dirigido por Walter Salles, o conhecido cineasta brasileiro. Foi lançado em 2012 e está sendo exibido pela Mubi. Ali aparece como uma produção dos Estados Unidos, mas em outro espaço da internet é dito como produção Brasil–França. A verdade é que se mostra um filme totalmente norte-americano, talvez não hollywoodiano em sua totalidade. Isso nos mostra como uma pessoa brasileira é capaz de se inteirar na cultura dos Estados Unidos, e não só conhecer essa cultura, como é natural para todos nós brasileiros, mas demonstrar que é capaz de dirigir um filme com integral junção ao mundo cultural dos Estados Unidos. Por exemplo, um cineasta como David Lynch não adaptaria de forma mais autêntica esse famoso romance de Jack Kerouac “On the road”, de onde Salles extraiu o filme.

Toda a produção é norte-americana pelo que lemos nos créditos. E principalmente todo o elenco, especialmente bem escolhido para criar um romance fílmico, que sem dúvida é agradável para o espectador. Não se pode negar a excelente direção cinematográfica e assim se cria essa linguagem que se assemelha aos bons produtos do cinema dos Estados Unidos. Entretanto, diante da limpeza estética que se encontra na narrativa e na própria forma de interpretar, começamos a sentir que talvez falte ao filme um certo amargor que realmente existe no grande romance de Kerouac.

Tanto os personagens nunca estão realmente tristes, como também nunca mostram o simples drama de viver. Afinal, a grande marca do drama criado por Jack Kerouac é o de personagens que estão na estrada justamente por considerarem que onde vivem não há expressão maior de vida. E o principal deles quer conhecer talvez a vida real, não o pouco que considera existir junto da sua família.

Mas esse não total aprofundamento, de certa maneira, é algo que existe no próprio Walter Salles como diretor de filmes. Para mim, o filme em que encontramos mais aprofundamento na trama é um cujo nome inclusive tem aproximação com estrada. Terra estrangeira.

Olinda, 14. 03. 22

FERNANDA III (Conto que pode ser também um filme.)

Celso Marconi Lins

Chegando. Estava passeando em Boa Viagem. E quis voltar para o centro do Recife. Tinha um ônibus desses bem comuns. Urbanos. Entrei e fiquei lá esperando. De repente, saiu e viajou não pelas avenidas, mas por uma estrada. Perguntei então ao motorista que história era aquela. Para onde estava indo aquele ônibus. Destino João Pessoa. Então, já que estava no caminho, não me incomodei. Iria para João Pessoa e voltaria mais tarde.

Quando chegamos na Paraíba, saltei do ônibus. Aluguei um táxi para visitar a cidade. Passear principalmente pelas ruas que conheci de um tempo em que lá morava. E de visitas passageiras.

Terminamos passando pela rua Maximiano Figueiredo e distingui a casa onde morei, que penso ser a de número 386. Uma casa ampla. Com um grande quintal. Com mangueiras na parte ao lado. Passei um tempo ali quando eu tinha 17 anos. Ou 18.

De repente, vi uma moça caminhando pelo espaço no meio da rua. Uma moça esguia. Fina. Com uma calça jeans bem muito estreita. Apertada. E por cima da calça jeans uma calcinha dessas bem apetitosas. A moça ia ligeiro. A seguimos com o táxi. E quando emparelhou, eu falei com ela, que me atendeu.

Ela disse que sua calça realmente estava muito apertada. E assim queria muito chegar em casa para trocar. Entrou no táxi sem medo. E falando comigo como uma conhecida. Me chamou para irmos até a casa dela. Então fomos.

Lá me apresentou ao pai. E fomos ao seu quarto. Então ela mostrou que era um desenho de calcinha. E me mostrou a calcinha verdadeira. Quando me revelou que ela era a Fernanda III. A neta da Fernanda primeira, que eu havia conhecido quando morei na Maximiano Figueiredo. Sua avó era uma moça que conheci, e que muito conversamos.

Então descobri que essa minha ida involuntária a João Pessoa era o meu destino determinando um conhecimento existente.

Olinda, 05. 03. 22

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