Alckmin ''cristianizado'' por meio PSDB

Apenas a mais tendenciosa má-fé explica que a Convenção Municipal do PSDB-São Paulo neste domingo (22) tenha sido noticiada como de ''acordo'' e ''unidade''. Na realidade, foram duas convenções: uma na Assembléia Legislativa, oficial e alckimista; e outra ao lado, no Clube Militar, paralela e kassabista.



O governador tucano José Serra compareceu ao evento oficial e prometeu apoio ao candidato ali escolhido, Geraldo Alckmin. O ex-governador agradeceu. Mas ninguém acreditou. Até as pedras da Catedral da Sé sabem que Serra é o padrinho da candidatura Gilberto Kassab (DEM) e vai ''cristianizar'' Alckmin.
 


Em política brasileira, o verbo ''cristianizar'' vem da eleição presidencial de 1950. Refere-se a quem imita os caciques do finado PSD, que trairam na surdina o presidenciável do partido na época, Cristiano Machado.
 


Na São Paulo de 2008, isso significa que as máquinas tucanas no estado e na prefeitura vão funcionar para Kassab. Portanto, que vão trabalhar contra Alckmin.
 


No mesmo dia da Convenção, entrevista do presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, advertia os correligionários: ''A oposição tem que ser feita ao PT. Seria suicídio ficar lutando Geraldo contra Kassab, Kassab contra Geraldo. Os dois têm que lutar contra o PT'', conclamou.
 


A chance do presidente de honra ser ouvido é zero. Na triangulação concreta que se criou no maior colégio eleitoral do país, só haverá lugar no segundo turno para um dos dois candidatos conservadores enfrentar a ex-ministra petista Marta Suplicy. Portanto, é matar ou morrer.
 


Na véspera do 20º aniversário de nascimento, e do 19º de sua virada à direita com a tese do ''choque de capitalismo'', a divisão do PSDB vai bem além de São Paulo. A disputa entre Serra e o governador mineiro, Aécio Neves, para ver quem concorre à Presidência em 2010, cinde o partido de alto a baixo – tendo como fundo o dilema básico entre aceitar ou contestar o domínio da plutocracia paulista, na legenda e no país.


 


O PSDB se depara ainda com um paradoxo estrutural que os próprios tucanos admitem, em privado: o partido se intitula social-democrata mas é cem por cento engravatado, sem vínculos dignos de registro com os movimentos sociais dos trabalhadores.
 


A disputa paulistana é estratégica para o destino dos tucanos, confirmando sua vocação paulicêntrica. Em outras capitais, o partido aparece como favorito em Curitiba, Teresina e Cuiabá. Em contraste, não lança candidato no Rio de Janeiro (apóia o verde Fernando Gabeira); nem em Belo Horizonte (fica com Márcio Lacerda, PSB); nem mesmo em Porto Alegre (apesar de governar o estado com Yeda Crusius, ou exatamente por isso, a pré-candidatura Marchezan naufragou e a sigla cogita aderir tardiamente à reeleição de José Fogaça, PMDB). Em Recife o partido apóia o PMDB, em Fortaleza o DEM e em Aracaju… o PCdoB (!).
 


No pólo oposto ao bipartido PSDB paulistano, o PT de Marta Suplicy saíu do isolamento ao negociar nos últimos dias a coligação com o Bloco de Esquerda (PSB-PDT-PRB-PCdoB) e uma chapa com o deputado Aldo Rebelo na vice. Se vencer a eleição e voltar à prefeitura, será de longe a vitória mais celebrada de 2008.