As demissões da Volks e a eleição presidencial

A pouco mais de um mês das eleições presidenciais, a multinacional alemã Volkswagen distribuiu cartas de demissão para 1.800 operários da sua unidade em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Além da forma fria e provocativa do anúncio do facão, o comunicado da empresa foi nitidamente antecipado – já que os funcionários só poderão ser desligados em novembro, mês em que termina o acordo firmado pelo sindicato de estabilidade para a categoria. Diante desta atitude prepotente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) suspendeu o empréstimo de R$ 497,1 milhões à multinacional e a assembléia dos metalúrgicos aprovou, por unanimidade, a deflagração de greve por tempo indeterminado.


 



Este episódio, que faz parte da encarniçada luta entre capital e trabalho, adquire assim nítida conotação eleitoral. Não é para menos que Geraldo Alckmin, candidato da direita neoliberal, procura tirar proveito da desgraça alheia para responsabilizar o governo Lula pelas demissões. ''A culpa é dos juros'', afirmou, hipocritamente, o presidenciável do partido dos rentistas, o PSDB. Já José Serra, candidato tucano ao governo paulista, ironizou o fato das demissões ocorrerem no ''berço do presidente''. Na mesma linha eleitoreira, a senadora Heloísa Helena afirmou que ''o BNDES tem a obrigação'' de fazer empréstimos à multinacional, o que deve ter causado calafrios aos trotskistas do PSOL e do PSTU.


 



A postura truculenta da Volks deveria merecer o rechaço de todos os trabalhadores e patriotas e não servir para oportunismos eleitorais. As demissões fazem parte de um plano de reestruturação da multinacional e não tem relação direta com a política econômica brasileira. Visam aumentar a lucratividade com o corte de pessoal e a chantagem para a retirada de direitos. Estão previstas 20 mil dispensas na unidade da Volks na Alemanha, além de cortes drásticos na Espanha, Portugal e México. Este plano revela a ambição desta multinacional, que é recordista de exportações no Brasil e detém boa fatia do mercado interno – pagando sete vezes menos aos metalúrgicos brasileiros do que aos operários da sua matriz alemã.


 



A atitude do governo Lula de suspender o empréstimo foi correta. ''Se a empresa não atende aos objetivos do Estado nacional, o BNDES não deve dar crédito'', reconheceu Carlos Lessa, ex-presidente do banco e um ácido crítico do governo. Mais justa ainda foi a postura firme dos metalúrgicos, que não se dobraram diante da truculência da multinacional e decretaram greve. ''Não vamos aceitar a perda de direitos. Se o trabalhador tiver que cair, que caia de pé'', afirmou José Lopez Feijó, presidente do sindicato. A luta dos operários da Volks promete ser prolongada e exige a solidariedade ativa do conjunto do sindicalismo. O que está em jogo é o futuro das relações de trabalho no país. Se os combativos operários do ABC forem derrotados, a tendência é que ocorra uma nova ofensiva do capital de precarização do trabalho.