Bali: meio ambiente ou comércio?

A 13ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática, que ocorre em Bali, Indonésia, demonstra duas coisas. A primeira é o isolamento cada vez maior dos Estados Unidos. A segunda, ligada a ela, é a reiteração do embate entre os países ricos e pobres na polêmica questão da defesa do meio ambiente e da habitabilidade do planeta Terra.


 


O isolamento estadunidense cresceu com a decisão do novo governo trabalhista da Austrália de aderir ao protocolo de Quioto – que acaba de completar dez anos. A decisão australiana foi comemorada com palmas na abertura da conferência, dia 3 de dezembro.


 


O embate entre os países ricos e pobres em questões ambientais também esteve presente. Os ricos exigem que todos arquem com os custos da preservação ; os pobres denunciam que por trás dessas exigências estão interesses comerciais, e não aceitam comprometer seu próprio desenvolvimento.


 


Em Bali, a delegação americana esteve unida – republicanos e democratas – em torno do mantra entoado pelo senador democrata John Kerry (derrotado por George Bush na eleição de 2004), da responsabilidade de todos os países, inclusive os pobres. ''Não há como os países desenvolvidos fazerem isso sozinhos. Esta não é uma questão per capita, é uma questão de emissões globais''.


 


É um impasse que se prolonga há décadas e esconde, por trás da defesa do equilíbrio ambiental, a manutenção da atual distribuição do poder, desenvolvimento e riqueza no mundo. São as ''duas caras'' dos países ricos a que se referiu o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim. Eles têm ''cara de menino bom, que promove causas benéficas para o mundo, mas têm outra, que em geral fica escondida, que é a cara protecionista, a cara de quem só quer obter mais lucro com as vendas de seus produtos'', disse ele, criticando a lista de bens ambientais apresentada pelos ricos, que exclui o etanol. É uma medida protecionista comercial e não de defesa do meio ambiente, acusou. Principalmente porque o etanol brasileiro (de cana), mais barato do que o estadunidense (milho) continuará pagando a sobretaxa de US$ 0,54 por galão (R$ 0,26 por litro) na alfândega dos EUA, eliminando a vantagem do preço. Amorim considerou esta exclusão uma ''aberração''.


 


Mesmo assim, o governo brasileiro manifestou a disposição de fazer concessões em temas sensíveis como o desmatamento e os créditos de carbono. O argumento oficial é que, com os créditos de carbono, que permitem a compra de direitos de emissão dos países pobres (em troca, principalmente, de limites ao desmatamento), os países ricos deixam de cortar suas próprias emissões, comprometendo assim o cumprimento das metas estabelecidas por acordos internacionais. ''É tão difícil para o Brasil reduzir o desmatamento como provavelmente é para os países desenvolvidos reduzir suas emissões energéticas'', diz Amorim. ''Os governos têm de enfrentar suas responsabilidades e não pensar que o mercado solucionará tudo''.