Boa notícia: 50% mais pobres recuperam renda de 1996

Em meio ao turbilhão de notícias que liderou a pauta única traçada pela mídia grande e monopolizada durante a semana que passou, um fato ficou relegado aos pés de página nos jornalões: a renda média do trabalhador voltou aos índices de 1999, há oito anos atrás!



Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios – Pnad – divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.




Na verdade, os números do Pnad mostram que a renda média do trabalho avançou 7,2% no ano passado, o maior ritmo de expansão desde 1995. O valor da renda média do país no ano passado chegou a R$ 888,00 que se equipara ao patamar de 1999. E os 50% mais pobres foram mais beneficiados e recuperaram o poder de compra de 1996. Já os 50% mais ricos da população, com renda média de R$ 1.482,00, ainda não voltaram ao patamar de 2001, quando tinham a média de renda em torno de R$ 1.495,00.




O economista da Fundação Getúlio Vargas, FGV, Marcelo Néri, conclui que “o Brasil viveu uma fase de estagnação trabalhista, em todos os sentidos, de renda e emprego, que começa a ser superada. A queda da renda expôs a pior face dessa crise. Quando se olha o retrato do Brasil, a figura é muito ruim, mas, quando se observa a trajetória, verifica-se que houve avanços”.Segundo o IBGE, o reajuste do salário mínimo pelo índice de 13,3% no ano passado foi fundamental para o crescimento da renda. Outro fator também foi a estabilidade de preços. Em 2006, a inflação encerrou o ano com alta de apenas 3,14%.




Entretanto é preciso constatar ao lado de notícias positivas que esta pesquisa do Pnad nos oferece – que o ritmo de queda da desigualdade de renda ainda é lento e preocupante. Já em 2005 a renda havia aumentado em 4,6%. Desde 1993 não cresce a desigualdade no país. É o que o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, constata ao afirmar que “em que pese, ano após ano, os indicadores de distribuição de renda se mostrarem favoráveis, a velocidade é muito pequena ante a desigualdade no país”.




A conta que se pode fazer hoje é de que a concentração de renda mostra que os 10% mais pobres detinham 1% do total de rendimentos no ano passado. Os 10% mais ricos concentravam 44,4% do total dos rendimentos. Desde o ano de 2004, esse patamar sofreu poucas alterações. Naquela ocasião (2004), os mais ricos representavam 44,7% da renda. E a atual pesquisa mostra que os 10% mais ricos da população recebiam um rendimento médio mensal de R$ 3.947,00 no ano passado.




Marcelo Néri, da FGV, conclui que “o país tinha antes uma desigualdade inercial, que praticamente não mudava, um cenário que começou a mudar nos últimos anos. Pequenas alterações nesses números podem significar grandes mudanças nos estratos sociais”. O que todas estas constatações revelam é a necessidade permanente do movimento social, em especial as entidades representativas das diversas categorias de trabalhadores, continuarem sua luta por melhores salários e condições de trabalho, além de pressionar por todas as formas o avanço nas conquistas sociais e políticas dos trabalhadores.