“Carta Maior” versus ditadura da mídia

Para o alívio dos que lutam contra a ditadura midiática e pelo fortalecimento de instrumentos alternativos de comunicação, Flávio Aguiar, editor da Agência Carta Maior, acaba de anunciar a decisão da direção desse veículo de dar continuidade ao seu trabalho jornalístico de alta qualidade. Segundo informa, o não-fechamento dessa imprescindível página eletrônica, conforme havia sido anunciado em meados de março, decorre da abertura de “novas possibilidades de publicidade e patrocínio”, já que sem essa perspectiva “é claro que a Carta Maior não teria condições de continuidade”, mas principalmente da ativa solidariedade dos leitores e de todos aqueles que lutam pela democratização da mídia no Brasil.


 


A eminência do fechamento dessa respeitada página na internet deflagrou um expressivo movimento em defesa da pluralidade nos meios de comunicação. “Sem o ânimo trazido pelos leitores e leitoras que a nós acorreram com suas mensagens públicas ou particulares, seus telefonemas, com a divulgação de nossa situação em outras páginas, rádios, revistas, blogues e outros veículos, dificilmente teríamos encontrado as energias necessárias para a manutenção de nossa luta pela democracia nas comunicações, através desta página já histórica na imprensa brasileira”, relata, em tom emocionado, Flávio Aguiar. A Carta Maior passou a receber em seu cadastro mais de cem novas adesões por dia para receber o seu boletim diário.


 


A manutenção desse veículo representa uma vitória parcial das forças democráticas e populares e deve ter incomodado os “latifundiários da mídia”. Como alerta o próprio editor, “uma luta como essa não é só da Carta Maior. Ela interessa a todos os veículos de comunicação, leitoras e leitores empenhados na luta por diminuir a desigualdade e varrer a iniqüidade da sociedade brasileira. A democratização da comunicação no Brasil é fundamental para consolidar o exercício da cidadania como patrimônio coletivo de todos os brasileiros”. O resultado dessa contenda também serve para desnudar as aberrações da monopolização da mídia no país e para denunciar a falta de ousadia de governo Lula na estratégica área da comunicação.


 


Enquanto as nove famílias que monopolizam o setor recebem a quase totalidade das verbas publicitárias do Estado – só a poderosa Organização Globo fica com mais de 50% dos milionários recursos públicos -, os meios alternativos padecem de enormes dificuldades, num visível atentado à democracia e a pluralismo no país. A grosseira manipulação da mídia hegemônica na recente eleição presidencial deveria ter servido, ao menos, para alertar o governo sobre o papel nefasto e autoritário desse setor cada mais monopolizado e internacionalizado. Até agora, entretanto, não há sinais evidentes de mudança de atitudes.


 


O Vermelho, que desde o início alertou seus leitores para o perigo do fechamento da Carta Maior, espera que essa vitória sirva para revelar o comportamento tíbio do governo e para intensificar a pressão social pela democratização da mídia. Esse processo deveria incluir a criação de uma poderosa rede pública de TV – e não da canhestra proposta do ministro “global” Hélio Costa -; a não-criminalização e o incentivo às rádios comunitárias; a discussão de uma nova regulamentação do setor que ajude a superar sua monopolização; a rediscussão sobre as verbas publicitárias; entre outras medidas de caráter democrático.