Cúpula dos BRICS reforça papel de destaque do Brasil no cenário mundial

Realização do evento quando o país exerce a presidência rotativa do grupo evidencia que o Brasil assumiu papel ativo no mundo

A realização da 17º Cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho representa a volta do papel de destaque do Brasil no cenário mundial, um feito do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Participarão do evento representantes de cerca de 20 países membros plenos e parceiros, além do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. O Conselho Popular do BRICS no Brasil – capítulo nacional do Conselho Civil do BRICS – organizou debates com a participação de 120 organizações da sociedade civil dos países do grupo.

O grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de membros recém-admitidos – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia –, representa 39% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, 49% da população mundial e conta com recursos naturais estratégicos (petróleo, terras raras etc.), produção agrícola, tecnológica e militar. Conta ainda com a modalidade de países parceiros – Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão –, criada no ano passado, que inclui convidados a participar da Cúpula.

Defende também maior envolvimento dos países desenvolvidos na transição climática de forma justa, que não penalize os mais pobres, com metas de descarbonização, financiamento e transmissão de tecnologia, tendo em vista que as mudanças climáticas atingem proporcionalmente mais as populações portes. O impacto da inteligência artificial também faz parte de sua agenda, como a necessidade de meios para que os países dos BRICs sejam produtores, não apenas consumidores.

A Cúpula debaterá o fortalecimento do multilateralismo e temas como cooperação em saúde global, comércio, investimento e finanças, mudança do clima, governança da inteligência artificial, reforma da arquitetura multilateral de paz e segurança, e o desenvolvimento institucional do BRICS.

Outro tema em destaque será a cooperação em ciência, tecnologia e inovação, prosseguimento da Declaração Ministerial de ministros da área de onze países-membros do BRICS em 25 de junho de 2025, reforçando a importância de ampliar o acesso e o domínio de tecnologias e inovações pelos países do Sul Global.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, Luciana Santos, que participará da delegação brasileira na Cúpula, considera essa uma questão chave. “O engajamento do Brasil nesses diálogos está ancorado na decisão de pactuar relações mutuamente benéficas, dentro do quadro das relações multilaterais, com respeito sempre às diferenças e persistindo no único caminho que julgamos verdadeiramente possível, que é o caminho da paz e do desenvolvimento”, afirmou a ministra ao abrir o evento.

O Brasil propôs a realização de um estudo de viabilidade para a implementação de um cabo submarino do Sul Global, ampliando a autonomia e o equilíbrio na circulação de dados no mundo. “Hoje, a infraestrutura de cabos submarinos por onde circulam os dados está fortemente concentrada no Norte Global. Por isso, uma das propostas que constará na carta é justamente a realização de um estudo de viabilidade para a implementação de um cabo submarino do Sul Global”, explicou a ministra.

À frente da presidência rotativa dos BRICS desde 1º de janeiro de 2025, o Brasil adotou o lema “Fortalecendo a cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável” e o impulsionou a cooperação do Sul Global e parcerias para o desenvolvimento social, econômico e ambiental, com prioridade para incentivo a projetos na saúde, no comércio, na mudança climática, na governança da Inteligência Artificial, na arquitetura multilateral de paz e segurança e desenvolvimento institucional, com melhoraria na estrutura e coesão do grupo.

Fica evidenciado que o Brasil assumiu papel ativo, comprometido com a agenda dos BRICS e grande influência no desenvolvimento e na cooperação entre os países membros. O presidente Lula também terá encontros bilaterais, à margem do evento, com os presidentes da Etiópia, Taye Atske Selassie; do Vietnã, Luong Cuong; e da Nigéria, Bola Tinubu.

A realização da Cúpula no Brasil quando o país exerce a presidência rotativa do BRICS – condição que lhe deu a primazia para definir a pauta do evento – é uma demonstração desse destaque no cenário internacional, com o aumento de sua influência e parcerias estratégicas. Na agenda da Cúpula estão questões como o multilateralismo e uma governança global fundada no direito internacional, com participação dos países nas decisões que afetam o mundo, combatendo medidas coercitivas e unilaterais.

Entre os objetivos da Cúpula estão medidas para criar um sistema financeiro independente que funcionará como alternativa à rede SWIFT, dominada pelo chamado mundo ocidental; o Banco do BRICS, que incentiva o comércio em moedas locais, impulsionando a desdolarização; e a cooperação tecnológica e energética. O grupo criou também o Acordo de Reservas de Contingência (CRA) para auxiliar membros em crises cambiais, reduzindo a dependência do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma forma de parcerias baseadas no princípio de ganhos recíprocos, proporcionando aos países desenvolvimento autônomo.

Logo após assumir a presidência rotativa, o Brasil anunciou a entrada da Indonésia, destacando o país como a “maior economia do Sudeste Asiático”, alinhado aos objetivos do grupo. “A Indonésia partilha com os demais membros do grupo o apoio à reforma das instituições de governança global e contribui positivamente para o aprofundamento da cooperação do Sul Global, temas prioritários para a presidência brasileira do BRICS”, disse, em nota, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

A Cúpula ocorre num cenário internacional conturbado, em meio à instabilidade sobretudo pelo rumo tomado pelos Estados Unidos, sob o governo de extrema-direita de Trump, num cenário de ascensão do neofascismo. É correta, portanto, a posição do Brasil de aglutinar um conjunto maior de nações no BRICS, que deve ter continuidade, numa linha ascendente de contribuição para o fortalecimento do grupo com o objetivo de dar novo impulso à integração latino-americana e à inserção soberana da região nas relações comerciais e políticas internacionais.

Em resumo, a Cúpula dos BRICS constitui-se num importante contraponto à agenda imperialista ao buscar o desenvolvimento soberano das nações, a construção de um ambiente internacional de paz, de cooperação, promovendo relações comerciais e políticas justas. Será um passo importante no combate à política do imperialismo de fazer do conceito de Estado nacional algo restrito a poucos países centrais, na busca de relações de cooperação e de solidariedade, logo, de paz mundial, de democracia e de soberania nacional.