Cúpula Sul-Americana fortalece projeto de integração regional

 A 2ª Cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (CSN) terminou no último final de semana na cidade boliviana de Cochabamba. A cúpula teve a presença de oito dos 12 presidentes que formam a organização. Na ocasião, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou seu compromisso com a a integração latino-americana: –“Apesar de ter a certeza de que temos muitas divergências, também temos muitas coincidências. E estou seguro que demoraremos muito menos tempo que a Europa para unificar-se”, declarou Lula. “Temos que nos integrar já, porque não vamos perder o século XXI. Já perdemos a década de 80, a de 90, o século XX, e sabemos que o século XXI vai depender de nossas capacidades”.


 


Na avaliação de Lula, nenhum país, por maior que seja, consegue promover sua economia isoladamente. Por isso, ele defendeu a idéia de que, unidos, os países latino-americanos podem se ajudar mutuamente, a partir da reciprocidade comercial. Nesse sentido, o presidente lembrou que existe um processo de integração nos tratados que envolvem os países em comum, como o Mercosul, o da bacia Del Plata, a Aladi e o tratado de cooperação Amazônica.


 


Lula destacou ainda ser preciso visar também a solidariedade entre os povos dos países da América Central e do Caribe. Afirmou que o Brasil tem muito mais o que exportar para os países da região. E que é preciso fomentar um maior número de alianças entre as empresas, criando cadeias produtivas que aproveitem o potencial energético da região – “o maior do mundo” -e desenvolvam a indústria aeronáutica, o transporte, a integração de conexões aéreas. Isso fomentaria o turismo, as comunicações, a construção naval, o setor de medicamentos e a indústria militar.



 


Por fim, Lula fez um alerta: –“Quero chamar atenção para um ponto essencial nos nossos objetivos: que a comunidade sul-americana estabeleça estreita relação com os movimentos sociais, elevando o nível social e econômico dos povos originários, afro-descendentes, mulheres e, sobretudo, os trabalhadores. Todos eles, atores sociais e políticos que escrevem a história recente, abrindo um futuro de esperança de um mundo melhor”.


 


 


Foi exatamente com este sentido que ao lado da realização da 2ª. Cúpula Sul-Americana de Nações, um conjunto de organizações sociais da América Latina promoveram a Cúpula Social pela Integração dos Povos. Evo Morales, presidente da Bolívia e anfitrião da CSN, deu a este evento a mesma importância destinada à Cúpula oficial. “Somente a união dos movimentos sociais com as delegações oficiais permitirá uma integração real entre os povos de nossos países”, defendeu Evo. “A luta histórica dos povos continua em vigência e agora temos uma grande oportunidade para garantir essa unidade”, disse. Foi neste ambiente da Cúpula Social que o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) promoveu um debate sobre a integração solidária da América do Sul e a luta antiimperialista.


 


Falando em nome do Cebrapaz, Ronaldo Carmona valorizou a luta pela integração da América Latina, que se dá à luz de uma nova realidade: “das 11 eleições presidenciais realizadas na região entre dezembro de 2005 e dezembro de 2006, a direita neoliberal foi derrotada em 9 delas. Nas duas que venceu com cara própria”, disse Carmona, “ainda assim registrou-se avanços das forcas progressistas (caso da Colômbia) ou a vitória foi obtida devido a descarada fraude (caso do México).” 
 


As conclusões deste debate sobre a integração latino-americana configuram uma verdadeira plataforma de luta dos povos e Nações latino-americanas. Entre as bandeiras aprovadas se destacam: buscar a constituição de um pólo independente e soberano na América do Sul, contra-hegemônico, que conteste o mundo unipolar, protagonizado pelos Estados Unidos; focar o desenvolvimento como centro do processo de integração, impulsionando o crescimento econômico, a integração física e de infra-estrutura e a integração energética, levando adiante idéias como o Gasoduto do Sul, a Petrosul e a interligação dos sistemas de energia; ter em conta como questão importante a sustentabilidade ambiental, tendo em vista que é o capitalismo o grande responsável pela deterioração da qualidade de vida de nossos povos.


 


Além disso foi destacado a defesa da democracia e o seu aprofundamento. Para tal indicou-se a ampliação dos  mecanismos de participação popular e novos mecanismos como o Parlamento Sul-americano.


 


Noutro plano foi aprovado  impulsionar as conquistas sociais e a valorização do trabalho como eixo fundamental para ser a integração instrumento da melhoria da vida dos povos; e finalmente, valorizar a cultura e a identidade nacional de cada um dos povos latino-americanos — segundo suas distintas formações sociais – num contexto de reafirmação da questão nacional em oposição ao cosmopolitismo pós-moderno da globalização neoliberal.