Enem: ensino público está mal na foto

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixera (Inep) divulgou ontem (29) os resultados do Exame Nacional do […]

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixera (Inep) divulgou ontem (29) os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2008. Como nos anos anteriores, o ensino público — sobretudo das redes estaduais — continua, como dizem os jovens, aparecendo ''mal na foto''. O exame foi aplicado em todo o Brasil e apenas 8% das escolas melhor avaliadas no ENEM são públicas. Entre as mil com piores notas no país, 965 são da rede estadual.



A situação revela que ainda há muito para se fazer na área da educação, principalmente por parte dos governos estaduais. O próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, reconheceu que falta investimento no setor. Segundo ele, em 2007, o investimento público em educação foi de R$ 1.500 ao ano por aluno do ensino médio. ''O ensino médio teve um incremento muito importante por parte dos governos estaduais, com aumento de 50% de 2005 para 2007. Mas ainda é muito pouco'', explica o ministro.



Ao lado das particulares, as escolas federais também tiveram bom desempenho e, em São Paulo, uma escola de São José dos Campos, mantida por uma fundação financiada pela Embraer e que atende apenas alunos carentes, oriundos da rede pública, teve o melhor desempenho entre as escolas paulistas. O caso desta escola e das federais revela que quando há investimento adequado e a pedagogia é levada a sério os bons resultados aparecem, não importa se os alunos são ricos ou pobres.



Mas como se trata de exceção à regra, os resultados gerais do ENEM acabam confirmando que o ciclo gerado pela desigualdade social no país ainda é perverso. O ranking por escola mostra claramente que as regiões mais pobres concentram os piores resultados. Das 20 melhores, 16 são do Sudeste, enquanto entre as 20 piores, 15 são do Norte e Nordeste. ''Assim como todos os outros indicadores sociais econômicos, o desenvolvimento da região também vai se refletir na educação'', concorda o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, revelando que dos 2,9 milhões que fizeram o ENEM em 2008, 69,3% declararam ter cursado todo o ensino médio em escola pública.



Isso significa que quase 70% dos nossos jovens –sem contar aqueles que nem chegam ao ensino médio– estão condenados a perpetuar o ciclo da pobreza que vincula educação deficiente com baixa renda e falta de oportunidades? A resposta para este problema está na capacidade dos governos federal, estaduais e municipais promoverem as mudanças necessárias para a melhoria da qualidade do ensino público. Como bem defende o senador Cristovam Buarque, é preciso promover uma verdadeira revolução pela educação.
 


O governo federal já mostrou que está disposto a encarar este desafio. Cabe aos governadores, prefeitos e à toda sociedade ajudar neste esforço.
 


E estas mudanças podem começar pelo próprio sistema de avaliação. O Ministério da Educação já planejou uma reestruração da prova do ENEM, que passará a ter 200 questões e uma redação, ao invés das 63 perguntas atualmente aplicadas. O novo ENEM também poderá servir como critério de seleção para o ingresso nas universidades públicas federais. Mas a mudança ainda é tímida. As entidades da área educacional defendem que o ENEM seja seriado, aplicado ao final de cada um dos três anos do ensino médio. Assim, o exame conseguiria avaliar a evolução dos alunos durante todo o ensino médio, permitindo que o próprio aluno e escola tomem iniciativas para corrigir suas deficiências. Como disse o jovem Ismael Cardoso, presidente da UBES, não basta substituir o vestibular tradicional pelo novo ENEM. ''A ideia é pegar o filme do estudante e não a foto''.



Para o bem do projeto de nação democrática, popular, desenvolvida e com justiça social que defendemos, seria importante que as ''fotos'' reveladas pelo ENEM nos próximos anos já mostrassem a educação pública brasileira mais bonita e sorridente que a da foto deste ano.