''Excesso de cálculo político'' racha o PSDB paulista

A reunião do diretório municipal do PSDB de São Paulo, na noite da segunda feira, ''oficializou'' a divisão entre os tucanos e revelou sua profundidade. Explicitou também dificuldades que, há duas semanas, pareciam superadas com a tacada do governador José Serra ao anunciar a aliança com o peemedebista Orestes Quércia para apoiar a candidatura do prefeito Gilberto Kassab (DEM) à reeleição.


 


 


Pareciam resolvidas, e agora parecem agravadas nesse jogo de espelhos em que a política da direita se transformou. O objetivo de Serra era fortalecer Kassab com a adesão do PMDB e colocar uma cunha na aliança deste partido com o Palácio do Planalto e em uma eventual candidatura do tucano mineiro Aécio Neves à sucessão do presidente Lula, em 2010.


 


 


Mas não contava com a persistência do ex-governador e candidato derrotado à presidência da república em 2006, Geraldo Alckmin, que insiste em ser candidato à prefeitura da capital paulista.


 


 


Aquela reunião confirmou esta pretensão. Lá, contra parte da cúpula do partido (entre eles secretário municipal de Esportes Walter Feldman, firme defensor da aliança tucanos-DEM), contra a opinião de onze dos doze vereadores tucanos, mas com amplo apoio da militância do PSDB, seu nome foi confirmado como pré-candidato, depois de enfrentamentos verbais, acusações e muxoxos.


 


 


Até a confirmação da candidatura de Geraldo Alckmin muita água vai rolar peloTietê – ela precisa ser confirmada pela convenção, que vai ocorrer em junho. Mas é visível que os tucanos paulistas marcham para ela profundamente divididos.


 


 


Este arranjo que incluia a aliança com o DEM, o lançamento de Alckmin para o governo estadual em 2010, com Quércia para o Senado e Serra para a presidência, agora parece frágil. Em seus primeiros desdobramentos, quem está no alvo são justamente seus autores e agentes. É um ''excesso de cálculo político'', acusou o deputado federal José Aníbal, um dos mais ativos na tropa de choque de Alckmin, e contrário ao apoio à Kassab. Para ele, o PSDB perdeu ''duas eleições por causa disso. O cálculo político fica com um olho aqui, outro em 2010 e outro em 2014 e não nos leva a lugar nenhum.''


 


 


O vereador Tião Farias, único pró-Alckmin na bancada municipal dos tucanos, foi explítico sobre o motivo do racha. Ele disse que a negociação com o Democratas ia bem até o anúncio da aliança com Orestes Quércia. ''Estávamos em um bom nível, mas colocaram o Quércia na sala. Estamos perdendo tempo''. Aliança ''com o DEM e com o Quércia não dá'', disse.


 


 


Outro sinal da profundidade do racha veio do secretário municipal Walter Feldman: sob vaias da militância, ele insistiu na tese de que, para unir o partido, Geraldo Alckmin precisa desistir de sua candidatura. O próprio Gilberto Natalini, um dos vereadores tucanos que apoiam Kassab, reconheceu: o partido ''já rachou'', disse.


 


 


Quem se recorda da epopéia tucana que foi a indicação de Alckmin como candidato do partido em 2006 – quando afrontou os cardeais que preferiam a candidatura de José Serra – pode ter uma medida da capacidade de resistência – outros diriam teimosia – do ex-governador. A mesma epopéia pode se repetir este ano, permitindo a previsão de nuvens carregadas nos arraiais tucanos para 2008 e também para 2010.