Faixa de Gaza: as novas ameaças de Israel
Há dois anos a Faixa de Gaza sofreu um dos mais brutais e cruéis ataques israelenses, a chamada “Operação Chumbo […]
Publicado 30/12/2010 18:12
Há dois anos a Faixa de Gaza sofreu um dos mais brutais e cruéis ataques israelenses, a chamada “Operação Chumbo Derretido” que, entre 27 de Dezembro de 2008 e 22 de Janeiro de 2009, deixou um saldo de mais de 1.400 palestinos e 13 soldados israelenses mortos, e um rastro de destruição que ainda permanece principalmente por que o bloqueio imposto por Israel ao território palestino impede a reconstrução.
Os escombros continuam por toda parte, a iluminação pública não existe mais, 70% da população não tem acesso a água porque os encanamentos foram destruídos, a única central elétrica foi destruída naquele ataque e não há energia elétrica nem mesmo para os hospitais, que funcionam com geradores quando há combustível. E a vida cotidiana é controlada à distância por aviões e navios israelenses.
Mesmo assim, nos últimos dias, a tensão voltou a crescer aos níveis que atingiu nas vésperas do ataque de 2008. As provocações de Israel acumulam-se indicando claramente a busca de um pretexto para uma nova operação agressiva e genocida contra os palestinos.
Os múltiplos disparos feitos a partir dos aviões militares, tanques de guerra e mesmo navios israelenses já deixaram mais de dez palestinos mortos (em sua maioria jovens) apenas no mês de dezembro. A polícia israelense ataca civis não respeitando nem mesmo as comemorações religiosas do Natal e, esta semana, prendeu em sua residência, em Hebron, na Cisjordânia, o deputado palestino Mohamed al-Til; com ele, são quatro os deputados palestinos presos por Israel.
A tensão é alimentada também pelas palavras ameaçadoras das autoridades israelenses. O vice-primeiro-ministro Silvan Shalon insinua a possibilidade de uma nova agressão quando diz esperar “que não haja necessidade de outra operação” como a de 2008, mas enfatiza, numa ameaça clara: “se a situação continuar, obviamente temos de responder com toda nossa força”.
Avigdor Lieberman, o extremista de direita que é ministro israelense de Relações Exteriores, endossa essa ameaça ao desconsiderar a legitimidade da Autoridade Palestina para negociações de paz. Num discurso aos embaixadores qualificados em Tel Aviv ele desqualificou o processo de paz dizendo que “mesmo que oferecêssemos aos palestinos Tel Aviv e o regresso às fronteiras de 1947, eles encontrariam uma razão para não assinar um acordo de paz”. Isto é, o chefe da diplomacia de Israel não quer um acordo de paz!.
E o general Gabi Ashkenazi, chefe do Estado-Maior israelense, incorporou-se a essas declarações anti-paz ao qualificar, perante a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa do parlamento de Israel, a situação atual como "frágil, volátil e explosiva", sem "garantias de que não haverá uma posterior piora na situação".
São sinais que indicam a existência de uma nova agressão em preparação. O mundo hoje não é mais o mesmo de dois anos atrás, embora o apoio incondicional da diplomacia dos EUA, dirigida pelo presidente Barack Obama e pela secretária de Estado Hillary Clinton, aos facínoras que governam Tel Aviv continue o mesmo.
Os palestinos, por sua vez, colecionam vitórias diplomáticas, obtendo o reconhecimento para seu Estado independente e com as fronteiras de 1967 em vários países da América Latina (com o Brasil à frente) e a elevação de suas representações diplomáticas em países chave na Europa, como França, Espanha, Portugal e Grã-Bretanha. Embora este seja um quadro politico desfavorável a Israel, a lógica da força pode prevalecer e a barbárie israelense pode continuar dando o tom, apesar da heroica e invencível resistência palestina.
A causa palestina há muito deixou de ser uma questão regional de árabes, judeus e palestinos. Ela se transformou numa causa civilizacional, que diz respeito a todos os seres humanos decentes de todos os recantos do planeta, que precisam se envolver no esforço para derrotar Israel e fazer o bom senso e a paz voltarem a pautar as relações entre aqueles povos.