Juros: o passo paquidérmico do Copom
O Banco Central começou a se mexer, em ritmo paquidérmico: a reunião do Copom, encerrrada ontem, cortou a taxa Selic, […]
Publicado 12/03/2009 10:33
O Banco Central começou a se mexer, em ritmo paquidérmico: a reunião do Copom, encerrrada ontem, cortou a taxa Selic, de juros, em 1,5 pontos percentuais, retornando ao patamar de setembro de 2007 a abril de 2008, de 11,25% ao ano. O Banco Central aumentou os juros a pretexto de combater .uma ameaça inflacionária que não se concretizou. Mas que, no dogmatismo inflacionista dos ''iluminados'' do Copom, foi o pretexto para as decisões altistas que tiveram, como consequência, o agravamento do quadro econômico nacional, com influência direta no mal desempenho da economia traduzido na queda de 3,6 do PIB registrada no último trimeste de 2008, e divulgada esta semana.
Os componentes do Copom assistiram, inflexíveis, ao avanço da crise mundial e seus reflexos no país. Suas decisões constituíram um sério obstáculo para o êxito das políticas anticíclicas adotadas pelo governo, na contramão das medidas anticrise do governo federal, e da tendência mundial das medidas contra a crise. Na marca dos 11,25% ao ano, o que (descontada a inflação) equivale a uma taxa real de 6,5%, o Brasil continua – graças ao passo paquidérmico do Copom – campeão mundial de juros.
Contramão que se revela também na lentidão do corte. Quando era preciso começar a baixar os juros, o Copom aumentou. Por pura teimosia, manteve a taxa inalterada em dezembro, justamente quando se encerrava o trimestre fatídico da queda recorde no PIB. E agora, quando o erro ficou evidente e público, adota a opção mais baixa, contra as recomendações de corte de 2% feitas inclusive por economistas conservadores. Isto indica a opção por movimentos lentos, atrasados, em direção oposta às necessidades do país.
A reação de trabalhadores e empresários foi unânime. As centrais sindicais condenaram em praça pública a lentidão do Banco Central e um boneco representando seu presidente, Henrique Meirelles, foi praticamente linchado nas manifestações. A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) acusou a decisão de tímida. A Força Sindical, de nefasta; a Central Única dos Trabalhadores (CUT), de tardia. E a Fiesp, em nota divulgada após a decisão, disse que os condutores da política monetária serão os responsáveis pelo desemprego se, ''a curto prazo, não acontecerem novos cortes na Selic.''
As decisões do Conselho de Política Monetária, que hesita em baixar a taxa de juros a padrões aceitáveis e adequados para enfrentar as imposições da conjuntura de crise econômica, refletem um pacto político ultrapassado mas que permite aos setores rentistas impor seus interesses ao conjunto da sociedade e abocanhar, via juros altos, fatias consideráveis da produção de riquezas que ocorre no país.
Hoje, o Brasil precisa de um novo pacto capaz de vencer a ganância improdutiva daqueles setores e destinar os recursos à produção e à melhoria das condições de renda e trabalho. Um novo pacto que inclua representantes dos trabalhadores e empresários produtivos entre os membros do Copom, influirem diretamente na tomada de decisões que afetam a vida econômica do país e sua capacidade de resistir à crise. Esta é uma exigência feita pela CTB, em proposta feita às demais centrais sindicais e também aos empresários como condição para alcançar maior rapidez na queda dos juros e para a ''busca de um entendimento nacional para produção e emprego.''