Lições da crise política, 12 meses depois

Hoje, 6 de junho, completa-se um ano da publicação, pelo jornal Folha de S,
Paulo, da célebre entrevista do então deputado Roberto Jefferson sobre o
”mensalão”. Além de cunhar este neologismo de estupendo sucesso na mídia, a entrevista abriu a crise política mais grave do governo Lula, e de longe a mais prolongada da história política brasileira.

As denúncias de Jefferson amalgamaram um bloco conservador
oposicionista-midiático, que passou a atuar em equipe. No rastro delas
cairam ministros de relevante papel político, três CPIs foram criadas, os escândalos de corrupção se atropelaram nas manchetes, a TV levou para dentro de cada residência as peripécias de uma espécie de reality show da crise.

Doze meses depois, a crise, praticamente, pertence ao passado. Gerida para
fazer com que o governo Lula sangrasse até o dia das eleições de outubro,
foi ela própria se esvaindo. Todas as pesquisas apontam de volta a tendência à reeleição de Lula no primeiro turno.

 

 

A oposição perde a iniciativa. Discute-se no bloco oposicionista-midiático se não houve aí um erro estratégico. Há quem pregue que o certo teria sido aproveitar o paroxismo da crise, nos idos de agosto (sempre agosto…) para jogar o tudo-ou-nada doimpeachment. É duvidoso que tivesse dado certo.

Também as forças sociais e político-partidárias progressistas têm a
obrigação de se debruçar sobre estes 12 meses, para tirar suas lições ­
evidentemente muito distintas das do bloco conservador.

 

 

A primeira e a principal delas é a urgência da reforma política.
Em reação à crise, o Congresso aprovou rapidamente uma nova lei, de
iniciativa do senador Jorge Bornhausen, cerceando gastos nas campanhas
eleitorais. É iniciativa circunscrita aos efeitos, tipo aspirina. Não vai às
causas do problema que pretende enfrentar.

Enquanto isso, a reforma política propriamente dita aguarda votação no
plenário da Câmara dos Deputados, depois de passar pelas comissões
pertinentes. Não é por certo a panacéia capaz de livrar a política de todos
os seus males, mas contém dispositivos que vão ao cerne do sistema que
produziu a crise. Institui a votação em listas partidárias, e não em
indivíduos, em busca do indispensável fortalecimento dos partidos.
Estabelece o financiamento público das campanhas, numa desprivatização que é o único meio eficaz de coibir o caixa dois. E pelo menos reduz as barreiras que a legislação em vigor impõe à liberdade partidária.

É preciso aprovar esta reforma política. Será, ainda que tarde, o primeiro
passo da sociedade e da República no sentido de tirar consequências
estruturantes da crise de 2005.