O crime da ''mãe do PAC''

Há 16 dias a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é alvo de um bombardeio de saturação da mídia dominante. O sinal para o assédio foi dado pela revista Veja, que mais uma vez assumiu a liderança da  alcatéia midiática, acompanhada por outros órgãos da grande imprensa e pelos partidos oposicionistas, PSDB e PFL, estes mais uma vez reduzidos ao papel de coadjuvantes.


 


Acusa-se Dilma, ou sua secretária-executiva, Erenice Alves Guerra, de organizar um dossiê sobre gastos questionáveis do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua troupe. O noticiário confunde, propositadamente, três temas distintos vinculados ao suposto dossiê: 1) o próprio conteúdo do texto, do qual a Veja publicou apenas a primeira parte, menos comprometedora para o ex-presidente; 2) quem elaborou o texto de 13 páginas, que a Casa Civil nega ser um dossiê – palavra criminalizada pela mídia a partir de 2006 –, sustentando que são dados extraídos de um banco de dados do Planalto; e 3) quem roubou os dados sigilosos e vazou-os para a imprensa, crime previsto no artigo 325 do Código Penal, objeto de um inquérito da Polícia Federal.


 


Na semana passada, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi interpelado no plenário da Câmara Alta sobre seu papel no terceiro episódio. Admitiu que recebeu o documento antes da revista, mas não confirmou nem desmentiu ter sido o autor do vazamento. Caso seja, há quem afirme que seria uma reincidência. Pesa sobre o mesmo tucano a acusação de ter vazado para dois diários, em 2004, informações sigilosas da CPI da Terra, sobre hipotéticos ilícitos de uma ONG ligada ao MST, jamais confirmados.


 


Todo o noticiário, porém, recebe tratamento editorial sob medida para criar uma nuvem de suspeitas sobre o Palácio do Planalto, e mais precisamente sobre a Casa Civil. O alvo é Dilma.


 


O crime da ministra não é nenhuma participação em qualquer episódio do malcheiroso ''caso do dossiê'' – as acusações publicadas são de uma fragilidade que só não desmoronou ainda devido ao monolitismo oposicionista da mídia dominante.


 


O crime de Dilma é o de integrar o governo com maior índice de aprovação da série histórica de 19 anos do instituto Datafolha. É o de ser, nas palavras de Lula, ''a mãe do PAC'', o Programa de Aceleração do Crescimento, de notável popularidade por contrariar os dogmas dos ortodoxos de dentro e fora do governo, apostando em uma via desenvolvimentista impulsionada pelo Estado. É o de aparecer, em conseqüência, como possível candidata presidencial em 2010 (uma possibilidade execrada pela coalizão midiático-oposicionista, já que representaria a continuação do projeto de Lula depurada dos resíduos neoliberais que permanecem na orientação do Banco Central).


 


O país já viu esse filme, mais de uma vez. Desde a posse do governo Lula, em 2003, o bloco midiático-oposicionista tratou de roê-lo pelas bordas. Dada a biografia, o carisma e o sentido de classe da figura do presidente, essa gente reluta em atacá-lo de frente, temerosa de que o tiro saia pela culatra. Elege, então, a cada momento, um colaborador ou aliado como saco de pancadas da temporada. Que o digam José Dirceu, Antonio Palocci e Renan Calheiros.


 


No caso de Dilma, a injustiça e o farisaísmo da armação são ainda mais evidentes. Com perfil de administradora, embora movida por princípios e convicções que faz questão de realçar, ela entra na alça de mira do bloco anti-Lula por motivos cujo sórdido cálculo político salta aos olhos. A maioria pró-Lula dos brasileiros torce para que Dilma resista ao apedrejamento e saia dele fortalecida.