O discurso histórico de Dilma Rousseff

Um discurso histórico – esta é a explicação que se espalhou, mesmo na mídia hegemônica e conservadora, para o pronunciamento […]

Um discurso histórico – esta é a explicação que se espalhou, mesmo na mídia hegemônica e conservadora, para o pronunciamento de Dilma Rousseff –, aconteceu nesta segunda-feira (29), perante o Senado, no julgamento do processo de impeachment contra ela, que lá ocorre.

Sim, a caracterização é correta. Foi um discurso histórico. Mas, por quê? As razões alegadas são múltiplas, mas há dois motivos que se ressaltam e, nas décadas futuras, talvez sejam cada vez mais reconhecidos como tal.

Há quem resuma a historicidade daquele fato ao desempenho de Dilma Rousseff como pessoa. Há razão nesta consideração que reconhece a coragem pessoal e a determinação de uma mulher que luta pela democracia, pelo desenvolvimento e pela defesa do Brasil como nação soberana. Uma lutadora que, no passado, enfrentou a tortura física devido à ousadia de suas ideias. E ontem, quatro décadas depois, enfrentou 14 horas de debate perante o Senado.

Há grandeza nessa atuação. Mas não foi apenas ela que caracterizou seu discurso como histórico.

Tradicionalmente a direita e os conservadores investem contra a Constituição e instauram a instabilidade política sempre que veem seus privilégios ameaçados.

Depuseram Getúlio Vargas em 1945 e o atacaram outra vez em 1954, e o levaram ao suicídio como ato político final para barrar o golpe em andamento. Tentaram impedir a posse de Juscelino Kubitschek em 1955. Agiram contra João Goulart em 1961 e 1964, abrindo uma página de nossa história que infelicitou a nação durante duas décadas.

Investiram contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde 2005 e tentam, hoje, depor a presidenta Dilma Rousseff.

É nesta dimensão que aquele discurso se caracteriza como histórico, com força. Pela primeira vez, na série de golpes movidos pela direita e pelos conservadores, ao longo das décadas, ficou caracterizado que o que está em disputa não é apenas a pessoa do principal dirigente da nação, mas principalmente o conflito entre os dois programas que há décadas disputam a orientação que prevalece no Estado brasileiro. De um lado o programa democrático, avançado, desenvolvimentista, nacional e progressista. Do outro lado o ideário elitista que sempre se contrapôs a ele, o programa do atraso e antidemocrático, que coloca o país de joelhos perante o imperialismo e investe contra direitos sociais, políticos e econômicos que os setores rentistas e conservadores da classe dominante nunca aceitaram.

A dimensão histórica reside no fato de que nunca, no passado, a contraposição entre estes dois programas ficou tão clara! E exposta por aquela que é vítima da tentativa de deposição.

A outra dimensão que dá sentido histórico ao dia de ontem foi o agigantamento da presidenta Dilma Rousseff como figura de proa em defesa da democracia, do avanço social e político. Como dirigente do esforço pelo desenvolvimento nacional, se for confirmada em seu cargo ameaçado, ou da resistência democrática e popular caso o golpe se concretize e ela seja afastada.

Estas são as dimensões históricas daquele discurso: a exposição clara e didática dos dois programas que sempre disputaram o controle do Estado e do governo; e o crescimento e reconhecimento do papel dirigente de Dilma Rousseff da luta popular e democrática.

Desde os primeiros momentos da ação golpista e do processo de impeachment, a direita e os conservadores tentaram evitar o confronto que o Brasil assiste, no qual foram desmascarados os motivos mesquinhos e particularistas do golpe. Chegaram inclusive a espalhar que a participação de Dilma naquela sessão seria “emocional” e “choramingas”. Não foi. Foi uma etapa da luta enfrentada por ela, na qual representou os brasileiros, como brilho e altivez.