O PMDB e a sina do centro

Em sua Convençâo Nacional deste domingo (11), o PMDB fez a escolha por mais do mesmo. Optou pela reeleição de seu presidente, o neolulista deputado Michel Temer (SP), por continuar grande e dividido, dentro da base de apoio do governo Lula, montado em pesadas máquinas de representação de interesses locais, e ministeriais. Mais uma vez abdicou de um projeto nacional próprio, e sinalizou que permanecerá como coadjuvante nas presidenciais de 2010.



Temer, ao fim da Convenção, disse exatamente o contrário: ''Como maior partido, o PMDB tem o direito de lançar o candidato (da coalizão governamental)'', adiantou. Acredite quem quiser.



A escolha foi por quase unanimidade dos presentes. E uma tentativa de estimular a abstenção frustrou-se com a presença de 457 dos 558 convencionais.



Com a Convenção, o grande partido de centro radicaliza – se é que cabe usar este verbo – os traços típicos dessa localização no espectro político-ideológico. O PMDB ganha força como coadjuvante na mesma proporção em que perde ossatura para um protagonismo mais autônomo. Não por acaso, forças externas ao partido trabalharam em silêncio mas com diligência contra a alternativa Nelson Jobim no comando da sigla, que representava o movimento inverso. Sob pressão, Jobim desistiu da candidatura, em outro gesto bem PMDB.



Esta é a sina do centro, ou pelo menos a trajetória clássica do centro. Assim tem sido desde que a Revolução Francesa inventou, junto com a política como a entendemos hoje, o mapeamento desta em esquerda, centro e direita. Em um dado momento desta gênese, na Convenção revolucionária, a divisão ganhou apelidos geográficos: a esquerda era a Montanha; a direita a Gironda; o centro a Planície, ou o Pântano, para as línguas mais afiadas. O desfecho da luta política, dentro e fora do Parlamento, dependia em grande medida de quem lograva arrastar o centro para o seu lado.



Esta mesma dinâmica básica funciona também no Brasil – que nunca viveu uma revolução no sentido preciso da palavra, mas possui uma cena política também radicalizada, pelas desigualdades gritantes da base econômico-social. A última vez em que o centro jogou o papel decisivo foi na superação da ditadura militar, com Ulisses Guimarães e Tancredo Neves. Não por acaso foi a época de ouro do PMDB.



Mas já então o grande partido de centro não conseguiu construir uma plataforma vertebrada, e nem a sua conseqüência política, uma candidatura presidencial competitiva. Nas cinco eleições para presidente que se seguiram, só duas vezes teve candidato próprio: em 1989, quando chegou em sétimo lugar, com 4,7% dos votos, e em 1994, obtendo a quarta colocação, com 4,4%.



A Convenção peemedebista deste fim de semana sinaliza para 2010 algo semelhante ao comportamento do partido em 1998, 2002 e 2006. Não só a alternativa Nelson Jobim terminou derrotada pela sindrome do… da Planície. O projeto pessoal do ex-governador Anthony Garotinho deu mais um passo em seu processo de liqüefação; teve que se contentar com o cargo de segundo secretário na Executiva do partido, e ao preço de se passar da oposição para o apoio ao governo Lula.