Remédio ou veneno contra a inflação
Dividida e sem bandeiras, a oposição liberal-conservadora já escolheu seu mote para a campanha eleitoral de 2008: a inflação. Em […]
Publicado 10/07/2008 16:17
Dividida e sem bandeiras, a oposição liberal-conservadora já escolheu seu mote para a campanha eleitoral de 2008: a inflação. Em discursos inflamados, tucanos, demos e notórios mercenários da mídia culpam o governo Lula pela recente escalada inflacionária. ''Incompetente'' e ''frouxo'' são alguns dos adjetivos utilizados. Nada falam sobre a explosão dos preços dos alimentos no mundo todo nem sobre a atuação corrosiva dos especuladores sobre a alta das commodities, isto é, as mercadorias entre as quais estão os alimentos. O discurso é rasteiro, sendo quase uma torcida pela volta da inflação, que prejudica especialmente os mais pobres.
Diante do risco inflacionário, os setores neoliberais – de fora e dentro do governo – se rendem ao deus-mercado e querem enrijecer as medidas ortodoxas, com mais aumentos nos juros, restrição ao crédito e arrocho fiscal.
Estas ''ações duras'' ganham adeptos até em setores progressistas da sociedade. O remédio indicado, porém, pode rapidamente se converter num veneno, castrando o crescimento da economia e resultando em novo ciclo de desemprego. Seria o retorno do ''vôo da galinha'' na economia, que penaliza o setor produtivo e beneficia apenas minoria de rentistas e especuladores.
De fato, o retorno da inflação é um espectro que ameaça as famílias brasileiras. Pesquisa recente do Dieese atestou a elevação do custo da cesta básica em 16 capitais. Nos últimos doze meses, o aumento variou de 27% em Porto Alegre a 52% em Natal. Estimativas do Banco Central situam a inflação medida pelo IPCA em 6,3% em 2008, quase no teto da meta oficial. Há 14 semanas o preço dos alimentos cresce, o que é sentido por qualquer um que vá à feira. O medo do monstro inflacionário já surge nas pesquisas de opinião e pode, conforme alerta o economista Luis Nassif, abalar a popularidade do governo Lula, assentada, sobretudo, nos índices positivos da economia.
O dilema é que o remédio proposto pelos neoliberais não resolve o problema. Pelo contrário: ele pode ter efeitos colaterais ainda mais destrutivos. O Brasil já ostenta o título de campeão mundial dos juros, sendo um paraíso da especulação. Se a taxa for mais elevada, ela afetará os investimentos das empresas, comprometendo o crescimento futuro da economia. Também atingirá diretamente as contas do próprio governo, já que os títulos da dívida pública estão indexados à taxa Selic. Alem disso, reforçará a tendência à sobrevalorização cambial, com a atração de capitais especulativos, deteriorando ainda mais as contas externas do país. Em síntese, dependendo da dose, o remédio vira veneno, retraindo o crescimento da economia e contendo a expansão do emprego.
Até agora, o presidente Lula resiste à pressão. Tanto que bancou, contra alguns tecnocratas do próprio governo, maiores investimentos na produção agrícola, apostando no aumento da oferta de alimentos para conter a inflação. O Plano Agrícola e Pecuário de 2008-09 prevê um volume de crédito de R$ 78 bilhões, o que representa um incremento de R$ 8 bilhões em relação à safra anterior.
Vingou a tese do economista João Sicsú, diretor do IPEA, que afirmou numa entrevista exclusiva ao Vermelho que ''a forma mais adequada de se conter a inflação é aumentar a oferta de alimentos e não reduzir a demanda''.
Ocorre que a pressão do deus-mercado será violenta, sempre com o apoio entusiástico dos tucanos, dos demos e dos mercenários da mídia. Eles querem os mesmos remédios que aplicaram quando estavam no governo, e que foram venenos muito fortes que eles impuseram inúmeras ao povo brasileiro, com fortes prejuízos para a economia brasileira.