Serra-Aécio: "chapa dos sonhos" ou "tudo-ou-nada"?

Depois que o governador Aécio Neves anunciou, na última quinta-feira (17) que desiste de disputar a candidatura presidencial tucana, elevou-se a pressão para que ele seja o vice de José Serra. É a chamada 'puro sangue' – por ser apenas tucana, sem representação do DEM, sonhada por Fernando Henrique Cardoso.  Outros a mencionam como a "chapa dos sonhos" e "imbatível", por expressar os dois maiores colégios eleitorais do país.

O otimismo sem peias faz parte do jogo eleitoral. Mas não escapa aos observadores atentos que a pressão pró-Serra-Aécio reage a um cenário de crescentes dificuldades para a oposição. Na pesquisa Datafolha deste domingo (20), a polarização Serra-Dilma acentuou-se, com a diferença entre os dois reduzindo-se de 16 a 19 pontos, em agosto, para 14 pontos agora.

Quando Aécio partiu para postular a presidência, expôs os seus motivos. Antes de mais nada, oferecia-se como alternativa ao que considerava uma excessiva paulistização do PSDB (São Paulo é o berço político dos quatro candidatos presidenciais que a legenda já teve).

Aécio foi, viu e perdeu. Não obteve nem as prévias internas que pleiteou. Ou sequer a confirmação, por Serra, de que é, sim, candidato. Depreciado, desdenhado, recuou enquanto era tempo. Com 49 anos, pode esperar. Em 2010, disputaria o Senado, e ajudaria seu vice, Antonio Anastasia, hoje em dificuldades para se eleger governador.

Há dúvidas sobre a irredutibilidade da desistência, expostas inclusive pelo presidente Lula, sem animosidade, em conversa com jornalistas.

Há quem recorde a respeito um célebre diálogo de dois políticos mineiros que se encontram na rodoviária: – Pronde ocê vai cumpadre?Manhumirim. E o perguntador deduz: O cumpadre tá falando que vai pra Manhumirim preu pensar que ele tá indo pra Manhuaçu. Mas num me engana não.. Eu sei que ele tá indo mesmo é pra Manhumirim!"

Mas as dúvidas se cingem à irreversibilidade da desistência presidencial. Quanto à vice, aceitá-la seria o fim do discurso de Aécio sobre paulistizações, que sofre forte pressão que vem desde o presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, até o grande partido oposicionista informal da mídia.

De fato, uma chapa Serra-Aécio parece ser a mais forte ao alcance da oposição. Sobretudo depois que o DEM se tornou um aliado incômodo, chamuscado pelo escândalo de corrupção envolvendo o governador José Roberto Arruda.

Mas é também uma operação de risco, um jogo de "tudo-ou-nada". No caso de uma derrota, que as pesquisas estão longe de afastar, a oposição terá queimado seus navios. Serra ficará sem mandato, e provavelmente com o desafeto Geraldo Alckmin no governo de São Paulo. Aécio, sem mandato e com um não-tucano governando Minas.

Em uma oposição constrangida à defensiva pelo sucesso de público do presidente Lula e seu governo, tudo é difícil e arriscado. O PSDB, que formou uma imagem de partido "em cima do muro", provavelmente postergará ao máximo a decisão