Um passo adiante para a democracia e a paz na Colômbia 

A justiça e o governo colombiano anunciaram na semana passada a devolução da personalidade jurídica ao partido de esquerda União […]

A justiça e o governo colombiano anunciaram na semana passada a devolução da personalidade jurídica ao partido de esquerda União Patriótica, que pode voltar a funcionar livremente.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (Farc-EP) definiram a decisão como um “ato de justiça”, embora tardia.

A notícia adquire importância extraordinária no quadro do processo de diálogo para a paz que se desenvolve em Havana, Cuba, entre as forças insurgentes e o governo do presidente Juan Manuel Santos.

Abre-se com isso a possibilidade de a guerrilha participar da vida política e eleitoral do país. Obviamente, isto só será possível com a plena vigência das liberdades democráticas, com a tolerância política e o mais absoluto respeito à divergência e à oposição, o que está longe de ser a prática da oligarquia colombiana, cujo poder tem sido exercido, ao longo de muitas décadas, na base do terrorismo de Estado ou em conivência com o paramilitarismo.

A União Patriótica não desapareceu da cena política por opção própria, mas foi uma vítima desse terrorismo de Estado. Era um agrupamento político popular e frentista e compôs as forças de esquerda do país.

Fundado em 1985, o partido foi uma alternativa de participação dos revolucionários na vida política e eleitoral do país, quando ocorreu um diálogo para a paz entre as Farc e o governo do ex-presidente Belisario Betancur.

Em 1986, a União Patriótica concorreu às eleições presidenciais. Seu candidato, Jaime Pardo Leal, chegou a obter 4,6% da votação, atingindo o terceiro lugar. A União Patriótica obteve a mais alta votação na história dos partidos de esquerda colombianos, elegendo cinco senadores, 14 deputados, 35 vereadores e 23 prefeitos.

Dois candidatos presidenciais, 7 congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos e mais de 5 mil militantes da União Patriótica foram assassinados pela repressão policial-militar do Estado colombiano e grupos paramilitares ligados a narcotraficantes, os quais, por sua vez, eram mancomunados com esses órgãos repressivos.

O líder guerrilheiro e dirigente político Ivan Márquez argumentou, em matéria publicada neste domingo (14 ) no Blog da Resistência e no Portal Vermelho, que o país não pode admitir "o argumento de que o genocídio se explica pela combinação de armas e política". Afinal, seus mártires, destacados dirigentes políticos, como Jaime Pardo, Leonardo Posada, José Antequerra, Bernardo Jaramillo e tantos militantes anônimos, disse, não portavam fuzis quando foram crivados de balas.

O que os matou foram a intransigência e a indolência do Estado, que apostou no extermínio dos revolucionários.

A devolução da personalidade jurídica à União Patriótica é um passo adiante para a obtenção da paz e da normalidade democrática na Colômbia. É, sem dúvida, uma vitória política das forças populares e da insurgência. Isto reforça a luta pela convocação de uma Assembleia Constituinte como meio para a conquista da paz e da democratização do país. O futuro da Colômbia depende disso. E isso é muito importante para a consolidação das forças democráticas, progressistas e populares em toda a América Latina.