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Adalberto Monteiro: As cigarras

*

Nas noites sem lua,
À mercê do escuro e sob o faro das feras,
Nossa tocha de fogo,
Eram aqueles músicos.


 


A noite encanta, mas, também, entedia e mata.
As canções por aquelas juvenis gargantas
– tanto talento e nenhuma fama –
Eram o incenso que nos acasalava,
Eram a faca com que domávamos a solidão.
Enquanto cantavam, enforcávamos os tiranos.
E jurávamos libertar aquelas crianças
Brancas&negras&escravas
Que pelas madrugadas vendiam rosas.


 


Cantavam a bem dizer – de graça –
Como fazem as cigarras.


 


As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006