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Adalberto Monteiro: Certa vez

*

Certa vez em Outrora,
com tua permissão
minha vida repousou
no teu colo.
E tuas mãos,
se não exagero,
acariciaram
esta desprezada imagem.
Se não adultero o pretérito,
elas pousaram no meu peito
e ouviste o meu desesperado
e insignificante coração.
Se é que não estou
pressionando o passado
extraindo-lhes cenas
segundo as conveniências
de minha auto-estima,
teus lábios
chegaram a tocar minha pele.


 


 


Mas mesmo nos confins do acontecido,
não te tive!
Não foi minha face
cansada que recebeste ao colo.
Na verdade,
não eram os meus pêlos
que acariciavas,
eram as palavras
com as quais bordávamos o futuro.


 


 


Mas mesmo nessas circunstâncias,
mesmo que parte do narrado
seja fogos e artifícios da fantasia,
o meu maltratado ego se extasia
em alardear
que acolheste
este barco mutilado
na tua acolhedora enseada
e que de – qualquer forma –
meu rosto
esteve entre
tuas coxas quentes.


 


 


Verbos do Amor & outros versos
Adalberto Monteiro
Edição 1997