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Aidenor Aires: A Coluna Prestes em Goiás – 2ª parte

Retomando o assunto do livro de José Mendonça Teles (a Coluna Prestes em Goiás), observo, caro leitor, que o historiador acrescenta ao seu trabalho importante resgate histórico dos relatos sobre a Coluna, feito pelo Padre Manoel Macedo, que integrou a tro

O material esteve inédito até agora em arquivo da Biblioteca Nacional e é documento indispensável ao conhecimento das correrias, sonhos e tropelias da Coluna e seus líderes. Mendonça recolhe a voz do tempo, as impressões captadas pelas sensibilidades da época e deixa aberto o caminho para aprofundados estudos sobre a Coluna, que ainda permanece fantasmagórica na historiografia brasileira. Vive mais no imaginário da gente e a maioria dos documentos que pretendem explicá-la foi produzida por seus próprios integrantes, por historiadores apologistas ou meramente cartoriais. Está por encontrar compreensão a patriotada que percorreu o país, até se internar na Bolívia, matando, saqueando, tomando cidades e vilas em nome de um vago ideal de resgate ético e de possível modernização da política brasileira, nos deploráveis anos da incipiente república governada por Arthur Bernardes.



Não se discute a bravura, a intrepidez e a estóica abnegação dos revolucionários, mas faltam explicações plausíveis sobre o ideário do movimento que atravessou o país sacrificando vidas, semeando esperança e terror, travando combates com forças oficiais de vários estados e do Governo Federal, com jagunços do coronelismo e do cangaço, sem deixar atrás de si nada mais que o mito e a glorificação surrealisticamente libertária de seus líderes.



Em sua maioria freqüentaram a sucessão de golpes e insurreições no país, aliaram-se ao caudilho Getúlio e chegaram ao porto conspiratório e autoritário do golpe de 64. À exceção de Prestes, que ganhou o internacionalismo comunista, carregando o possível mérito e o simbolismo da Coluna, povoando o imaginário de século XX, como um mito sebastianista, o Cavaleiro da Esperança, os demais permanecem embuçados. Com a distância, esperam-se melhores estudos que iluminem o rosto do movimento, de seus líderes e combatentes.



O real sentido de sua cavalgada, a significação de sua epopéia pelo interior do Brasil e a importância que teve na movimentação política e ideológica no tumultuado ambiente do século passado. Este livro de José Mendonça Teles, pela extensão e sinceridade do relato abre as portas a estas indagações. Talvez o tempo, distanciando os fatos e os homens, enseje outras explicações para além do subjetivismo das impressões e da mera apologia. O livro de Mendonça desperta este desafio e passa a integrar a bibliografia sobre o tema, como acervo indispensável aos estudiosos e pesquisadores sobre a Coluna. Em especial sobre suas idas e vindas pelos sertões goianos.