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Brasigóis Felício: Perdido vício de amar

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Existo em mim
e todas as coisas no meu porto se restaram
e fiquei central; e sem periferias
sem galerias, pose, amor ou sentimento
eu continuo a vida sem muito interesse
como quem se cansa de uma coisa e a persegue
porque lhe falta coragem para romper com o hábito:
assim é a vida: o meu costume
e o meu vício incurável, que vai findar
mas que não acabará por minha vontade por que sou fraco
e covarde dentro da coragem de viver.
Existo nas coisas
que não possuo e em sonhos eu desejo
estou presente nas ausências
nas saudades e vigílias nos meus olhos
e nas mulheres que não tive e que ficaram.
Mais que todas as outras, as outras minhas
as que se foram me perseguem nos silêncios
e nas carícias que sonhei para o meu hábito –
desfeito o sonho, permanecem nas lembranças
as coisas que não tive, e que eram minhas
mas se perderam, dos meus passos na estrada.


 


Martírio das Horas Poemas – Brasigóis Felício
Editora Oriente