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Brasigóis Felício: Vertigens da Cidade

*

A cidade é palco
de uma guerra insana
poucas vezes santa


 


 


A cidade é sonho
de que só se desperta
na canção da treva


 


 


Nela se vive de esperar
que o amanhã nos traga
um amanhã mais leve


 


 


Tribos se cruzam, insones,
no transe de viajar
na transa dos desejos


 


 


Mal amanhece,
e em suas ruas rugem
milhares de bólidos semoventes


 


 


Na pressa de viver,
todos vão aos seus compromissos
como em espécie de rito – ou vício.


 


 


Na normose de sermos nevróticos
vamos cruzando com outros neuróticos
“Na hora espandongada do almoço”


 


 


em que somos consumidos
pela fome pantagruélica dos desejos
jamais saciados


 


 


 


 


       II


Quando não é o futuro
a ser conquistado,
é o passado a ser esquecido


 


 


Há sempre um olhar
de desespero ou medo
a esperar, nos sinaleiros


 


 


Ou vem incendiar o dia
um olhar aceso de esperança
ou cheio de ilusões vazias


 


 


Quando não é a busca vã
do essencial emprego
é o desespero de perdê-lo


 


 


Mais densa a treva de existir
quando vemos entrar em oblívio
aquilo que nos mantinha vivos


 


 


Vertiginosa e violenta é a cidade,
Babel de línguas e despistes,
“espaçonaves, guerrilhas”,


 


 


em triviais combates
que ao mesmo tempo nos matam
e nos alimentam.