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Publicado 31/01/2007 12:57 | Editado 13/12/2019 03:30
A cidade é palco
de uma guerra insana
poucas vezes santa
A cidade é sonho
de que só se desperta
na canção da treva
Nela se vive de esperar
que o amanhã nos traga
um amanhã mais leve
Tribos se cruzam, insones,
no transe de viajar
na transa dos desejos
Mal amanhece,
e em suas ruas rugem
milhares de bólidos semoventes
Na pressa de viver,
todos vão aos seus compromissos
como em espécie de rito – ou vício.
Na normose de sermos nevróticos
vamos cruzando com outros neuróticos
“Na hora espandongada do almoço”
em que somos consumidos
pela fome pantagruélica dos desejos
jamais saciados
II
Quando não é o futuro
a ser conquistado,
é o passado a ser esquecido
Há sempre um olhar
de desespero ou medo
a esperar, nos sinaleiros
Ou vem incendiar o dia
um olhar aceso de esperança
ou cheio de ilusões vazias
Quando não é a busca vã
do essencial emprego
é o desespero de perdê-lo
Mais densa a treva de existir
quando vemos entrar em oblívio
aquilo que nos mantinha vivos
Vertiginosa e violenta é a cidade,
Babel de línguas e despistes,
“espaçonaves, guerrilhas”,
em triviais combates
que ao mesmo tempo nos matam
e nos alimentam.