Sem categoria

Brasigóis Felício: Vida-lida

*

Em Babaçulândia
vidas somem nas matas
à busca de coco agreste.


 


Da safra sáfara
se tira um pouco
– quase nada que sustente
a fome de tanta gente.


 


Escravos da precisão
do nascimento à velhice,
têm olhos tristes, em que
resguardam um certo jeito
de não perder a alegria
– o luto em que se morre
de viver do mínimo.


 


Por aquelas bandas
o tempo é propício
a fabricar meninos
com tristes sinas
e trágicos destinos.


 


         II


 


Nas vastas paisagens
do Maranhão e Tocantins
vidas são alquebradas
em quebrar coco de babaçu:
espécie de inferno verde
a alargar-se para onde
alcancem as vistas.


 


São vidas estreitas
a gastar os dias no quebradio
que é o seu jeito
de plantar coragem
no cinzento dos dias.


 


       III



Duro é o coco
com que se batem
homens e mulheres.
crianças entram na lida
dos dias esturricados
e tornam-se duros
como o nó
da madeira mais seca.


 


Mesmo humildes e anônimos
cantam e dançam
quando as festas chegam.
canções de bumba meu boi
não lhes faltam
já que o mais
nunca chega.


 


Meninos brincam
com tal leveza
que nem se nota
sua pobreza.


 


De pés descalços,
fazem do coco
brincadeira de rodar pião
ou fazem folhas
de aves ilusórias
– de um vôo tão estreito
como os que vivem do eito.


 


Tudo é desespero e esperança
nos gerais onde a vida
é vendida à vista
para comprar-se a morte
a prestações.