“Era esse estar só, em silêncio, mirando uma flor, branca mais que ela – que estava mais pra nácar pálido sob a cabeleira fulva.”
Publicado 14/04/2025 14:01 | Editado 15/04/2025 08:28
Em pé, diante da cerca baixa, Donatela admirava um lírio. Estava ali há algum tempo, esquecida, contemplando a flor.
Ignoro se é temporada de lírio. Nem Donatela existe. É tão somente um personagem. Mas ela, ali, parada, mesmerizada, é assunto que não se pode deixar escapar, sob o risco, não só de perder prazos, mas de perder o senso do que é e do que poderia ser.
E a moça era, toda. Era esse estar só, em silêncio, mirando uma flor, branca mais que ela – que estava mais pra nácar pálido sob a cabeleira fulva.
Esse fato – literário, não real, tangível – esse fato merecia essa crônica… Porque não deixa de ser registro de um tempo sem cor apontar o lírio, sua verdade, mais efetiva que o sem sentido em que vivemos.