Donatela e a flor

“Era esse estar só, em silêncio, mirando uma flor, branca mais que ela – que estava mais pra nácar pálido sob a cabeleira fulva.”

Em pé, diante da cerca baixa, Donatela admirava um lírio. Estava ali há algum tempo, esquecida, contemplando a flor.

Ignoro se é temporada de lírio. Nem Donatela existe. É tão somente um personagem. Mas ela, ali, parada, mesmerizada, é assunto que não se pode deixar escapar, sob o risco, não só de perder prazos, mas de perder o senso do que é e do que poderia ser.

E a moça era, toda. Era esse estar só, em silêncio, mirando uma flor, branca mais que ela – que estava mais pra nácar pálido sob a cabeleira fulva.

Esse fato – literário, não real, tangível – esse fato merecia essa crônica… Porque não deixa de ser registro de um tempo sem cor apontar o lírio, sua verdade, mais efetiva que o sem sentido em que vivemos.

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