Filmes chineses em mostra gratuita

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Está acontecendo a Mostra Cinema e Reflexão, com apoio do Looke e do CPFL, passando filmes chineses atuais e antigos online. A China tem uma cinematografia forte e com apoio do governo, embora a censura também esteja presente. Sem dúvida, os melhores filmes nem sempre contam com muito apoio, como acontece na maioria dos países com relação às produções independentes. No caso da indústria chinesa de cinema, há uma particularidade: houve uma iniciativa para que os cineastas aprendessem a trabalhar com a linguagem do cinema hollywoodiano. Com razão, porque não interessa a ideologia de Hollywood, mas a sua técnica, que sempre foi extraordinária. Mas temos que observar que os melhores produtos são justamente os que sabem lidar com a técnica sem se prender a ela. Comento aqui rapidamente quatro desses filmes em exibição.

“A dor amante do Rio Amarelo”

Trata-se de uma produção bem convencional, isto é, parece um filme norte-americano feito na China por um cineasta chinês, o Xiaoning Feng. É um filme lançado em 1999 e que em 2000 concorreu ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Sem dúvida, “A dor amante do Rio Amarelo” é ‘cinema oficial’ e, claro, tem todo o apoio do Governo. Provavelmente pela temática e pela narrativa, ele faça sucesso de público e inclusive fora da China.

Olinda, 13. 9. 2020

Estreia de Chen Kaige na direção: “Terra Amarela”

Continuei hoje vendo filmes chineses que estão passando na mostra Cinema e Reflexão, uma promoção da plataforma Looke até o mês de outubro gratuitamente. E o filme que vi hoje foi a primeira realização do cineasta Chen Kaige, “Terra amarela”, que consegue ser um importante documento sobre a canção popular na China e isso no período 30/40 do século passado. O filme contou com a participação do cineasta Zhang Yimou, que é uma das principais figuras do cinema chinês. Zhang Yimou foi o responsável pela cinematografia, o que significa cuidado com a aparência do filme. Mas isso, na exibição que vi, não se pode notar bem, pois na televisão o filme fica quase borrado.

O importante é o que se pode ver mesmo, a linguagem que foi utilizada por Chen Kaige, olhando-se principalmente para a montagem, uma clara expressão de uma forma chinesa de narrar. “Terra amarela” tem uma história que se passa durante o período da guerra japonesa contra a China, entretanto a guerra é apenas pano de fundo. O que temos de mais forte é justamente as canções populares como documento e expressão poética e social. Kaige consegue montar uma obra ideologicamente impregnada do pensamento maoísta, porém sem deixar cair numa narrativa presa à política. Esse filme chinês vale a pena ver. Foi realizado em 1984.

Olinda, 14. 9. 2020

“Herói”, de Zhang Yimou

Está sendo apresentado também na mostra Cinema e Reflexão o filme do cineasta Zhang Yimou, “Herói”. Trata-se de uma obra bela, capaz de interessar tanto o cinéfilo como o espectador mais popular. Zhang conseguiu ser não só o mais popular cineasta do seu país como também atingir àqueles que gostam de um cinema mais erudito. E isso principalmente pela beleza. Yimou ganhou o público requintado do mundo quando fez uma obra belíssima e ao mesmo tempo de uma força poética extrema, como foi “Lanternas vermelhas”. Quando ele fez “O clã das adagas voadoras”, certamente ganhou o público que adora um cinema mais visual e movimentado e isso sem perder a qualidade estética, a tensão dramática. E esse mesmo cineasta Zhang Yimou foi capaz de criar uma obra simples, mas com força dramática e dimensão social, como foi “Nenhum a menos” que é um drama de uma professora tentando que o ano terminasse e ela conseguisse não perder nenhum aluno por desistência.

E esse grande cineasta é um especialista em cinematografia, sabe criar como poucos uma obra visual, inclusive para outros objetos e não apenas para filmes, como aconteceu com o cenário de uma Olimpíada internacional em Pequim. Esse filme “Herói” é do gênero visual e popular sem cair na qualidade estética. E além disso o diretor tem conhecimento cultural e histórico para utilizar a obra na educação política da população e assim é uma das figuras mais populares também com o governo chinês. Penso que chegar a uma posição como a deste cineasta até um Serguei Eisenstein gostaria em seu tempo fazendo cinema na União Soviética.

Olinda, 15. 9. 2020

“A História de Qiu Ju”

Esse filme de Zhang Yimou foi realizado em 1992 e concorreu ao Oscar em 93, na categoria de Melhor filme Estrangeiro. Recebeu o prêmio de melhor atriz para Gong Li. Como sabemos, Yimou faz dois tipos de filmes e esse é onde ele narra uma estória simples e onde o povo aparece como protagonista. De certa forma me lembra certos filmes de Nelson Pereira dos Santos, não só pela temática popular mas também pela maneira como dirige seus atores. Junto com “Nenhum a menos” temos nesses dois filmes um verdadeiro manual de conhecimento da vida na China na era de Mao. Isso se passa ainda nos dias em que o chinês se vestia com uma farda para economizar e todos terem direito a se vestir. Temos que lembrar que a China tem mais de um bilhão de habitantes e que a fome foi uma presença permanente até a chegada do maoísmo. Certamente que ainda terá muitos e muitos habitantes que se recordam dessa situação. Nas entrelinhas, Zhang Yimou sabe como explicitar para o espectador esse mundo imenso. E o cinema simplesmente pode ser uma arte que transmite a vida com sinceridade. E com beleza a partir de um trabalho sem exageros. Está na mostra Cinema e Reflexão do Looke.

Olinda, 16. 9. 2020

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